Você se lembra do cigarro Vila Rica? Não? Certamente já ouviu falar na Lei de Gérson. Estrela de uma campanha de marketing desastrada nos anos 70, o jogador teve seu nome eternamente associado ao oportunismo e ao vale-tudo que, infelizmente, ainda domina corações e mentes no Brasil de hoje. De cigarro Vila Rica em punho, Gérson dizia: “Você também gosta de levar vantagem em tudo, certo?” Na terça-feira 16, algum gênio de marketing que desconhece a história teve a brilhante idéia de enviar três garotas para promover a bebida energética Red Bull na cena da cratera que engoliu seis ou sete vidas em São Paulo. Com mochilas chamativas nas costas, elas passaram pelo cordão de isolamento e distribuíram a bebida aos bombeiros e funcionários que trabalhavam no resgate dos corpos das vítimas. Como se não bastasse, ainda tiraram fotos do local, tal qual turistas no Marco Zero de Nova York. Fizeram isso na presença dos familiares e amigos das vítimas, muitos ainda em estado de franco desespero. E, claro, dos curiosos e desocupados que apareceram para tirar uma casquinha do sofrimento alheio e, quem sabe, aparecer na mídia. A cena remete à clássica música De frente pro crime. Diante do corpo estendido no chão, canta João Bosco, “veio o camelô vender anel, cordão, perfume barato”. A pergunta é inevitável: quais são os limites do marketing? Onde acaba a ética profissional e começa o mau gosto? A Red Bull do Brasil negou em nota oficial que tenha se aproveitado da tragédia para fazer uma ação de cunho promocional. Terá de fazer muito mais do que isto para recuperar o dano causado à marca. Não foi sua primeira mancada. Em 2006, a empresa fez um carro de Fórmula 1 correr a mais de 250 km por hora nas ruas de São Paulo às 5h30 da manhã, desrespeitando as leis de silêncio e de trânsito. Nessa toada, Red Bull não dá asas. Dá náuseas.

Milton Gamez é Editor da Revista ISTOÉ