A o fim da guerra relâmpago da Rússia com a Geórgia, que espantou o mundo, Putin ressurge como líder vitorioso da geopolítica mundial. Muitos temeram a volta da guerra fria, com a estabanada entrada em cena do presidente americano, George Bush, que queria desde a primeira hora interferir no conflito. Mas, antes mesmo de sua intenção virar prática, o dirigente russo deu fim à crise com um acordo de cessar-fogo. Agora Putin busca redesenhar o mapa do Cáucaso em favor de Moscou, o que analistas interpretam como um desejo inconfessável de resgate da antiga União Soviética. Em todo o episódio, sobressaem as figuras dos dois líderes, Putin e Bush e de seus respectivos estilos. Putin era dado como aposentado, já no papel de primeiro-ministro, depois de quase uma década dirigindo o país. Mostrou que, ao contrário, era ele quem estava dando as cartas, à frente de seu sucessor, Dimitri Medvedev, que foi atropelado nas decisões e deixou claro que pouco governa. Putin saiu da reclusão graças ao georgiano Mikhail Saakashvili. O dirigente da Geórgia imaginou ingenuamente que todos estariam distraídos pela Olimpíada e dariam pouca atenção a seu plano ambicioso de anexar as províncias separatistas da Ossétia do Sul e da Abkházia, ambas de maioria russa. Mikhail deu o mote perfeito a Putin. E, entre fotos com crianças refugiadas da Ossétia e declarações firmes contra a "invasão", posou de vítima. A Bush não restou outro papel que não o do general belicista da superpotência. Às vésperas de sua saída do poder, Bush poderia ter evitado mais esse desgaste em sua imagem. Bombardeado de críticas pelos milhares de baixas de soldados americanos e bilhões de dólares torrados na guerra contra o terrorismo no Oriente Médio, Bush encerra seus últimos dias na Casa Branca como um dos mais impopulares presidentes dos EUA, reprovado por mais da metade dos americanos e agora com o fiasco de uma ameaça aos russos cujo resultado prático foi o total descaso, como se suas bravatas não valessem mais nem um dólar furado. Bush sai como aquele que deve ser esquecido. Putin escreveu mais um tento na sua história.

CARLOS JOSÉ MARQUES, DIRETOR EDITORIAL