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Em 1986, quando o brasileiro viveu a euforia do Plano Cruzado, as urnas em todos os Estados deram vitórias acachapantes aos candidatos do governo. Ninguém se mostrava disposto a qualquer mudança de rumos. Agora, em 2010, o fenômeno se repete. Independentemente de partidos, o eleitor indica que só pensa em continuidade. O consumo, o emprego em alta e a sensação de bem-estar da população têm influenciado decisivamente na hora da definição do voto não só na eleiçao presidencial como nas disputas regionais. Quando a economia do País vai bem, como agora, bater de frente com o governo, seja ele federal, seja estadual, vira uma tarefa inglória para um candidato de oposição. Resta ao oposicionista fazer críticas pontuais e prometer avanços nas áreas que vêm dando certo. O problema é que o discurso fica sem identidade e acaba por não seduzir o eleitor. É o que mostram as recentes pesquisas de opinião. Nas eleições estaduais, os candidatos à reeleição ou aqueles apoiados pelos atuais governantes são amplamente favoritos em pelo menos 15 Estados. Em outros quatro Estados, mesmo não liderando a corrida sucessória neste momento, os candidatos governistas estão no páreo. “Se quiséssemos eleições mais marcadas pela continuidade, seria difícil encontrar”, constata o diretor do Vox Populi, Marcos Coimbra.

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Com o País navegando de vento em popa, até mesmo os candidatos de partidos de oposição ao governo federal, mas que representam a situação nos Estados, aproveitam para surfar na onda da continuidade. É o caso de São Paulo. No Estado, beneficiado pelo crescimento industrial recorde em maio de 2,3%, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, lidera a disputa pelo governo com 50% das intenções de voto. O segundo colocado, Aloizio Mercadante, do PT, aparece com 14%. “Os candidatos que dominam a máquina se beneficiam com o momento de crescimento econômico. Inclusive os de oposição”, diz o cientista político Murilo de Aragão. O PSDB governa São Paulo há praticamente 16 anos e, confirmada a vitória de Alckmin, os tucanos conquistarão o quinto mandato consecutivo. “As prefeituras menores são dependentes da máquina estadual. Muitos prefeitos temem mudar”, justifica o secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo.

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No Rio de Janeiro, o candidato à reeleição Sérgio Cabral (PMDB) se vale do fato de ter os dois trunfos eleitorais nas mãos. Além de um governo muito bem avaliado, conta com o apoio do presidente Lula. Como consequência, desfruta folgada liderança com 58%, contra 14% de Fernando Gabeira (PV). Situação semelhante vivem os candidatos à reeleição na Bahia, Jaques Wagner (PT), e em Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Apoiados por Lula, personificam o discurso de continuidade tanto no plano regional como no federal. Por razões distintas, as governadoras do Pará, Ana Júlia Carepa, do PT, e do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, do PSDB, encarnam as exceções à regra. Com 53% de desaprovação, Ana Júlia brigou com o PMDB local, meteu-se numa briga com ruralistas e, hoje, pelas pesquisas, está atrás do ex-governador Simão Jatene, do PSDB. Já Yeda Crusius, candidata à reeleição pelo PSDB, alvo de denúncias de corrupção, amarga o terceiro lugar na disputa, atrás de José Fogaça (PMDB) e do ex-ministro da Justiça, Tarso Genro, que lidera com 37%. Nos dois casos, vale o inverso do provérbio popular: em time que está perdendo, se mexe.