Já é um lugar comum dizer que globalização significou o definhamento do Estado-nação. Nas palavras do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, “devido à total e inexorável disseminação das regras de livre mercado e, sobretudo, ao livre movimento do capital e das finanças, a ‘economia’ é progressivamente isentada do controle político […] o Estado, então, não deve tocar em coisa alguma relacionada à vida econômica: qualquer tentativa nesse sentido enfrentaria imediata e furiosa punição dos mercados mundiais”.

No Brasil, esse Estado enfraquecido tem se mostrado eficaz no cumprimento da ortodoxia monetária, mas impotente para enfrentar grandes desafios políticos. Talvez essa seja a explicação para o deplorável espetáculo oferecido pelo atual Congresso Nacional, expresso pelo fisiologismo que levou à eleição de Severino Cavalcanti e pelos escândalos como o mensalão e os sanguessugas, varridos para debaixo do tapete. Não satisfeitos com isso, os nobres parlamentares ainda tentaram tungar o contribuinte no apagar das luzes de 2006 com um aumento de 91% nos próprios salários. E, para terminar, montaram esse circo de horrores a que estamos assistindo na sucessão da presidência da Câmara dos Deputados.

Apesar de tudo, é preciso não sucumbir à tentação autoritária de considerar o Parlamento um candidato natural à lata de lixo da história. Ruim com o Congresso, pior com ele manietado por um regime bonapartista ou sitiado por turbas ensandecidas. A democracia ainda é “o pior dos regimes, à exceção de todos os demais”, como dizia Churchill com fina ironia. Para isso é necessário um Parlamento forte. Até para definir limites ao processo de globalização tido como inevitável. Mas os parlamentares precisam fazer a sua parte. O Congresso e os partidos só serão fortalecidos quando – e se – eles forem mais republicanos do que provincianos.

Cláudio Camargo é Editorialista da Revista ISTOÉ