Na quarta-feira 13, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi obrigado a adiar seu plano de ficar longe da campanha eleitoral deste ano. Ele visitou o candidato tucano Geraldo Alckmin no comitê central do PSDB, em São Paulo, onde ambos conversaram a sós. Depois, FHC tentou mostrar que tudo anda bem no ninho tucano e que o PSDB está coeso em torno da campanha de Alckmin. Nos bastidores, porém, é impossível esconder o nível a que chegou o racha dos tucanos, com o governador José Serra apoiando o prefeito Gilberto Kassab, do DEM, e Alckmin recebendo apoio de outros grãos-tucanos, como o mineiro Aécio Neves. Nos últimos dias, Serra cogitou até apoiar extra-oficialmente a candidata de Lula, Marta Suplicy, caso a candidatura de Kassab não decole. Lula, aliás, fez questão de afagar Serra na terça-feira 12, durante o anúncio da construção da nova sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), entidade que o governador presidiu nos anos 60. Mas o candidato do DEM, com 13% das intenções de voto, tem que atacar a petista para tentar subir nas pesquisas. Um reflexo da briga: na quinta-feira 14, completavam-se 12 dias com o site do PSDB fora do ar. Assim, para os tucanos, a eleição de 2008 virou a “paulicéia desvairada” de que falava Mário de Andrade.

O confronto entre tucanos “alckmistas” e “kassabistas” não respeitou nem mesmo o velório de dona Ruth Cardoso, em junho. Em determinado momento, o secretário de Governo da Prefeitura de São Paulo, Clóvis Carvalho, kassabista roxo, disse para o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE): “Apesar de vocês, quem vai ganhar é o Kassab.” Tasso começou a ficar vermelho. Antes que retrucasse, outros senadores o conduziram para longe de Carvalho. Mas o racha tucano não se reduz a bate-bocas. O líder da bancada na Câmara, o deputado José Aníbal (SP), que apóia Alckmin, demitiu mais de uma dezena de assessores que atuavam na liderança tucana há mais de dez anos, desde que o cargo havia sido ocupado pelo próprio Serra. Entre os afastados, estava a secretária pessoal de Serra na época, Diala Vidal. Na Assembléia Legislativa de São Paulo, os deputados alckmistas estão enfurecidos com o governador, que tem vetado quase todas as suas emendas. De Alckmin, muitos tucanos reclamam que ele só se interessa pelo seu próprio grupo e não dá qualquer atenção ao que dizem e pensam os demais. Aos mais próximos, Alckmin tem dito que não precisa de Serra para ganhar as eleições. Nos últimos dias, o ex-governador jogou lenha na fogueira ao desfilar pelas ruas de São Paulo com dois adversários de Serra: o governador de Minas, Aécio Neves, e o senador Tasso Jereissati. Serra sentiu o golpe e disparou seus emissários para avisar Alckmin de que não gostou da provocação.

No ninho tucano, os que ainda conseguem serenidade, como o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), argumentam com os dois grupos que eles nada têm a ganhar com a manutenção desse estado de beligerância. Para eles, como Alckmin já declarou apoio a Serra à Presidência em 2010, chegou a hora de Serra encontrar um meio de fazer as pazes e se dedicar à vitória de Alckmin. Assim, os dois ficariam amarrados, Serra garantiria um compromisso de reciprocidade e estaria acabada a pendenga. Na última vez em que tal proposta chegou aos ouvidos de Serra, o governador de São Paulo não lhe deu ouvidos. Primeiro, argumentou que ficava difícil abandonar Kassab no primeiro turno. “Além disso, acho que ele (Alckmin) tem de vir aqui me pedir isso formalmente. Na campanha para governador, eu fui pessoalmente pedir o apoio a ele. Então, agora ele me deve esse gesto”, disse Serra a um parlamentar que tenta mediar o conflito. O que aflige os tucanos que não estão em nenhum dos grupos é a impressão de que, a continuar essa refrega, o PSDB acabe perdendo a eleição em 2010 para ele mesmo.