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Passava das 2h30 da terça-feira 12 quando a judoca Ketleyn Quadros chegou à Vila Olímpica. Medalha de bronze no pescoço, entrou correndo no quarto da nutricionista e anunciou: "Promessa é dívida. Pode parar de cochilar e faça o que combinamos." Sem reclamar, a nutricionista saiu da cama, abraçou sua atleta e foram a um McDonald’s. Assim, comendo hambúrguer de madrugada, a brasiliense de 20 anos comemorou a primeira medalha do Brasil nos Jogos Olímpicos de Pequim, conquistada na noite da segunda-feira 11 no tatame (manhã no Brasil). "A preparação foi muito dura, inclusive na alimentação, e a nutricionista prometeu pagar um lanche se ganhássemos uma medalha", disse Ketleyn à ISTOÉ. Com isso, a judoca estudante de educação física bolsista na Faculdade Pitágoras, em Belo Horizonte (MG), entra para a história do esporte brasileiro como a primeira mulher a subir no pódio em um esporte individual. "Tudo parece um sonho. Até então poucos na Vila Olímpica sabiam quem eu era", diz Ketleyn. Hoje, ela é chamada pelo nome até por atletas de outros países.

O reconhecimento já trouxe um privilégio. Segundo a tradição olímpica, os atletas que terminam a sua participação deixam o país-sede em no máximo dois dias. Com Ketleyn será diferente. Ela pediu e obteve autorização para permanecer em Pequim até o final da competição. "No judô formamos uma família e quero ficar com eles", diz. Ketleyn também pretende fazer algumas compras na China. Vaidosa, carrega na mochila uma lista de cosméticos, boa parte deles da Victoria’s Secret. "Comprei um desses cremes em Miami depois de uma competição e achei ótimo. Mas não tenho dinheiro para comprar sempre", lamenta. Como atleta do Minas Tênis Clube, ela recebe mensalmente R$ 1,2 mil e, desde o ano passado, ganha mais R$ 3,5 mil da Confederação Brasileira de Judô, por integrar a seleção. "Não ganho muito, mas dá para me manter e ajudar minha mãe", diz Ketleyn. A vida da atleta, no entanto, nem sempre foi assim. Ela nasceu em uma família muito pobre na Ceilândia, cidade-satélite de Brasília. Descobriu o judô aos oito anos, quando fazia natação no Sesi, mas só pôde se dedicar para valer ao esporte em 2007, quando foi levada ao clube mineiro. "No Sesi, não tinha dinheiro para fazer inscrição nas competições. As poucas que disputei foi com o auxílio de minha mãe. Ela juntava com as amigas", lembra. E foi arrecadando dinheiro com as amigas que Rosemary Lima conseguiu chegar à China para acompanhar a conquista da filha. "Já comemos espetinho de cavalo-marinho e agora vou torcer ao lado dela pelos outros", diz a cabeleireira Rosemary, que ainda mora em uma casa pobre na Ceilândia.

Após a vitória de Ketleyn, o Brasil conquistou mais dois bronzes até a sexta-feira 16. Um com Tiago Camilo, que era favorito ao ouro, e outro com Leandro Guileiro. Com esses resultados, o judô passa a ser, ao menos temporariamente, o esporte que mais trouxe medalhas olímpicas ao Brasil. São 15 premiações contra 14 da vela e 13 do atletismo.

Traiu ou não traiu?

i56941.jpgJoão Derly não ganhou nenhuma medalha na Olimpíada, mas virou centro das atenções em Pequim e ao desembarcar no Brasil. Campeão mundial, ele entrou no tatame como favorito ao ouro, mas acabou eliminado da competição pelo português Pedro Dias e ainda amargou o fato de protagonizar um barraco olímpico. Dias disse a um jornal português que quis humilhar Derly no tatame porque havia sido traído por ele. "Uma vez, em São Paulo, saí com a mãe dele e mais tarde vim a saber que, enquanto isso, ele estava com minha namorada", declarou Dias. Casado há menos de um ano, o judoca brasileiro negou ter tido um affair com a namorada do colega. Recepcionado pela esposa ao desembarcar no Brasil, foi enfático: "Nunca me envolvi com mulher comprometida ou casada", disse Derly. "E a única importada que peguei foi a Gabriela, minha esposa, que é boliviana", acrescentou, ao lado dela, no aeroporto de Guarulhos.