i57001.jpg

Terminada a primeira semana de competições na China, atletas, técnicos e chefes de equipe não têm dúvida: a não ser que ocorra algum incidente alheio ao esporte, os Jogos Olímpicos de Pequim entrarão para a história em razão da extraordinária performance dos nadadores. Em apenas sete dias de disputa foram quebrados 19 recordes na piscina do Centro Aquático Nacional, nome oficial do Cubo D’Água. Análises mais precipitadas apontam o maiô da Speedo, confeccionado a partir de tecnologia desenvolvida pela Nasa, como o principal agente do fenômeno. Os que acompanham a natação motivados apenas pela paixão creditam o fato ao talento e ao empenho dos atletas. Especialistas em medicina esportiva destacam as novas técnicas científicas de treinamento e os cartolas fazem questão de mencionar os investimentos feitos na modalidade nos últimos anos, principalmente nos Estados Unidos. Na verdade, todos estão certos. Não há uma única causa capaz de explicar tanta superação. "O treinamento ficou mais científico, há um melhor acompanhamento médico e os atletas estão mais altos e fortes. Mas o que está fazendo a diferença é esse maiô da Speedo", diz Djan Madruga, exnadador brasileiro, medalha de bronze em 1980 na Olimpíada de Moscou. Ele cita os Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, no qual os atletas passaram a usar o maiô de corpo inteiro, motivo da quebra de mais de 15 recordes nas piscinas. "Hoje temos é uma evolução disso", afirma Madruga. O maiô LZR fabricado pela Speedo pode realmente ajudar. É produzido com tecnologia espacial, não apresenta costuras e possui elementos favoráveis à flutuação do atleta. O brasileiro César Cielo, que ganhou medalha e quebrou dois recordes olímpicos nos 50 m livre, nadou algumas vezes com ele. "Certamente o marketing feito em torno do maiô pode ser muito maior do que o seu efeito. Mas isso é bom. Mostra para a indústria que investir em natação dá retorno. Afinal, com apenas 50 segundos de televisão pode-se assistir a uma definição de medalha. Quem não quer atrelar sua marca a isso?", questiona Ricardo Moura, supervisor técnico da equipe de natação do Brasil em Pequim.

 i56998.jpg

i56999.jpg

De acordo com Moura, a quebra dos recordes na China é o resultado mais concreto do movimento iniciado em Atlanta em 1996. "Naquele ano, países como EUA e Austrália descobriam a natação como elemento de marketing e com isso o esporte ganhou recursos. Os treinamentos ficaram mais científicos e multidisciplinares, com a participação de fisiologistas e nutricionistas", explica o supervisor técnico brasileiro. "Os primeiros resultados práticos desses componentes foram vistos em 2000. Os estudos mostram que o maiô de corpo inteiro reduzia o atrito e vários recordes foram batidos", diz Moura. Conhecedor dos bastidores da natação mundial, ele lembra que no ciclo olímpico de 2000 a 2004 os investimentos no esporte nos EUA se tornaram ainda maiores. A tecnologia chegou às piscinas e com as imagens subaquáticas tornou-se possível estudar os efeitos de cada movimento dos atletas. Assim, foi introduzida a biomecânica nos treinamentos. "Os nadadores passaram a potencializar suas forças e as performances das braçadas e das viradas viraram objeto de estudos científicos. Isso embasa o trabalho dos técnicos", conclui Moura. O que está acontecendo em Pequim, segundo o chefe da equipe de natação do Brasil, Rômulo Noronha, é o "coroamento" de toda essa evolução. "Nada disso valeria se não fosse a dedicação e o talento dos atletas", diz. Com a tecnologia colocada na piscina do Cubo D’Água, avalia ele, os recordes serão batidos ainda com maior intensidade. Noronha espera agora que a natação brasileira consiga também atrair novos investimentos. "Apesar da troca de informação com os países mais desenvolvidos, ainda estamos correndo atrás do prejuízo, e com todas essas descobertas a diferença dentro d’água poderá ficar cada vez maior", finaliza.