Alcoólatra e separada do marido, Kathy (Jennifer Connelly) passa os dias prostrada na cama sem ânimo para sequer recolher a correspondência que se avoluma em sua porta. Não  muito longe dali, Massoud Amir Behrani (Ben Kingsley), refugiado iraniano e ex-coronel do exército do xá, trabalha insanamente sob o sol forte do norte da Califórnia para ao final do dia banhar-se, vestir um terno e voltar com uma Mercedes-Benz caindo aos pedaços na direção da mulher e do filho. Quando a casa de Kathy é colocada em leilão por falta de pagamento de impostos, Behrani vê no imóvel a oportunidade de reaver a dignidade perdida. É em torno da disputa pelo local que gira Casa de areia e névoa (House of sand and fog, Estados Unidos, 2003), em cartaz em São Paulo na sexta-feira 29.

Conhecido dos comerciais encomendados por pesos pesados como Microsoft e Nike, o diretor russo Vadim Perelman baseou seu longa-metragem de estréia no best-seller homônimo de Andre Dabus III. Nele, a questão da tolerância racial é abordada sem que se tome partido. A entrada em cena de Lester (Ron Eldard), um policial meio apalermado, que toma as dores de Kathy contra o estrangeiro, só contribui para radicalizar as posições, tornando inevitável o confronto entre os protagonistas. De um lado, o jeito instável da bela Jennifer. De outro, o perfil trágico e soberbo de Kingsley, literalmente em casa, já que Dabus criou Behrani à sua imagem e semelhança.