Segundo o diretor bósnio Emir Kusturica, só há dois tipos de cinema hoje no mundo: o do americano Steven Spielberg e o do iraniano Abbas Kiarostami. Uma frase de efeito, com certeza, mas que esconde uma verdade óbvia. Se existe um pensamento anti-hollywoodiano por excelência, ele se esconde em títulos como Cinco, mais recente trabalho de Kiarostami, feito em vídeo digital e composto apenas por cinco planos-sequências nos quais não se ouve nenhum diálogo. E só se vê a imagem fixa de algo acontecendo diante do azul do Mar Cáspio. Com uma retrospectiva, uma exposição de fotos e dois livros sobre sua obra – Abbas Kiarostami (Cosac Naify/Mostra Internacional de Cinema de São Paulo/FAAP, 326 págs., R$ 49) e Caminhos de Kiarostami, de Jean-Claude Bernardet (Companhia das Letras, 166 págs., R$ 34) –, ele é a grande atração da 28ª Mostra BR de Cinema, que acontece em São Paulo até o dia 4 de novembro.

Serão exibidos 329 filmes, grande parte sem nenhuma chance de voltar às telas comerciais. Kiarostami vai ministrar um workshop na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), onde estará exposta sua admirável produção fotográfica.  A mostra de 58 imagens inclui a famosa série em preto-e-branco As estradas de Kiarostami, mostrando paisagens vazias do norte do Irã. Todas elas estão no livro, que traz ainda três textos do cineasta. No brilhante Duas ou três coisas que sei de mim, fala de todos os seus filmes, entre eles Onde fica a casa do meu amigo?, no qual trabalha com crianças e atores não-profissionais, num método herdado do neo-realismo italiano.