Oito em cada dez executivos do mercado financeiro se surpreenderam com a decisão do Banco Central, que elevou, na quarta-feira 20, em 0,5% e não em 0,25% a Selic, a taxa de juros básica da economia. Com isso, as projeções também foram ajustadas para cima. Antes, se previa que o BC elevaria a Selic até 17% ao ano. Agora, as estimativas passaram a oscilar entre 17,5% e 18%. No mercado, a avaliação é de que o BC, ao subir os juros a 11 dias do segundo turno das eleições municipais, deu demonstrações de autonomia e a decisão, por ter sido unânime entre os diretores, fortaleceu seu presidente, Henrique Meirelles. Mas o tamanho do ajuste dividiu e confundiu a maioria dos analistas. Apesar da confusão momentânea, na quinta-feira 21, um dia após o ajuste, a Bovespa mostrou os primeiros a se beneficiarem com a alta da Selic: os bancos, claro. Ações do Bradesco e Itaú dispararam e fecharam o dia com valorização de 5,4% e 4,1%, respectivamente.

Até economistas tarimbados, como o ex-diretor do Banco Central Sérgio Werlang, hoje na direção do Itaú, preferem aguardar a ata da reunião, a ser divulgada nesta quinta-feira 28, para avaliar melhor os motivos do BC. “Há duas hipóteses: ou o Banco Central decidiu se antecipar e aplicou o aumento de dois meses de uma só vez ou está mesmo trabalhando com um patamar mais elevado de juro”, explica Werlang. No primeiro caso, o banco, embora declare que mira uma meta inflacionária de 5,1% no ano que vem, se contentaria em ficar com 6%, ainda abaixo do limite da meta, de 7%, e as projeções de crescimento para 2005, na faixa de 3,5% pouco se alterariam. Mas, se a ata do BC sinalizar para juros mais salgados, na casa dos 18%, as estimativas de crescimento devem cair para 3%. Entidades ligadas à indústria, ao comércio e a trabalhadores criticaram duramente o aumento. Mesmo sem citá-lo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu o tom do governo horas depois da decisão do BC: “É melhor andar com passos mais lentos, mas andar sempre para frente, do que quebrar a cara no primeiro pulo.”

Prós e contras: Inflação controlada; mais credibilidade; redução risco país; dívida pública maior;
crescimento em queda e inadimplência