13/05/2016 - 20:00
Anumerologia do poder no Brasil tem muitas variáveis. Tudo começa pelos números 12, 05 e 16, que formam a data da primeira mudança: sai o 13, entra o 15. Inclua-se o registro do placar final da votação no plenário do Senado que decretou o afastamento temporário da petista Dilma Rousseff e sua substituição pelo peemedebista Michel Temer – 55 a 22. Então, inicia-se uma contagem regressiva. 180, 179, 178… até que chegue o dia 0, com um possível impedimento definitivo da presidente, que se tornaria uma ex. Nesse intervalo, os números 90 e 100 ganham valor em algumas análises, como unidades para indicar o prazo simbólico, em dias, para Temer conquistar a confiança da população, dos mercados e dos investidores, tanto nacionais quanto internacionais. Nessa aritmética política, com o perdão do poeta Fernando Pessoa, governar é preciso, o poder não é preciso.
Exatos 963 dias separam a quinta-feira 12 de maio de 2016 da segunda-feira 31 de dezembro de 2018. A se confirmar a tendência que se verifica hoje, será essa a duração do mandato reservado a Temer, o tempo que ele tem para tentar mudar o Brasil – ou pelo menos, colocar o País numa trilha de mudança. Desde o dia 1 da sua gestão, porém, a agenda nacional é divida em duas. Uma vislumbra 100% da gestão do novo presidente, seus atos administrativos e políticos e os efeitos de curto, médio e longo prazos que eles podem surtir na vida dos brasileiros. Logo na primeira medida, Temer se apoia em algarismos de fácil compreensão para demonstrar sua intenção de promover a redução do peso do Estado e iniciar um ajuste fiscal real. Os ministérios, que na era Dilma foram 39 e, antes de seu afastamento, chegaram a 32, serão enxugados para 22. De início, esses números são apenas símbolos – é essa, afinal, a sua razão de existir como representações gráficas do conceito de quantidades. No futuro, poderemos avaliar se representarão algo mais, como o demonstrativo de uma nova forma de governar.
A segunda agenda deflagrada com a ascensão de Temer percorre cerca de três quartos de seu mandato, mais especificamente 878 dias. Nela, o dia D é 7 de outubro de 2018, provável data do primeiro turno das próximas eleições presidenciais. Como o presidente já manifestou publicamente sua decisão de não ser candidato, inicia-se no momento de sua posse, ainda que provisória a princípio, a mais longa corrida eleitoral de nossa história. Temer estará cercado de potenciais postulantes por todos os lados e terá de mostrar incrível habilidade política para não permitir que os interesses pessoais de cada um deles se sobreponham aos de sua gestão.
O que torna esse ambiente ainda mais complexo é a ausência de favoritos disparados na maratona presidencial. Pode-se olhar esse fato com viés positivo – existe a oportunidade para que surja um nome novo em um cenário ocupado normalmente pelos mesmos nomes. Ou, ao contrário, perceber-se que esse espaço só está aberto porque os atuais líderes políticos não conseguiram entender as demandas de uma nova geração de eleitores ou se libertar das velhas práticas de compadrio e relações suspeitas de favorecimento econômico. Líder em pesquisas de intenção, o ex-presidente Lula é a expressão máxima desse momento: um candidato sub judice, que pode se tornar inelegível em função das inúmeras denúncias existentes contra ele. Na oposição que agora vira governo, há disputas internas e aspirações conflitantes. Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra (com assento no Ministério Temer) dividem o PSDB. Henrique Meirelles, no comando da Economia, entra no jogo. Marina Silva, da Rede, não convence como alternativa. Todos eles, a cada folhinha arrancada do calendário, estarão de olho nos números de suas próprias popularidades. Terão de fazer algo concreto para se manterem em pé nessa prova de longuíssima distância.