Anumerologia do poder no Brasil tem muitas variáveis. Tudo começa pelos números 12, 05 e 16, que formam a data da primeira mudança: sai o 13, entra o 15. Inclua-se o registro do placar final da votação no plenário do Senado que decretou o afastamento temporário da petista Dilma Rousseff e sua substituição pelo peemedebista Michel Temer – 55 a 22. Então, inicia-se uma contagem regressiva. 180, 179, 178… até que chegue o dia 0, com um possível impedimento definitivo da presidente, que se tornaria uma ex. Nesse intervalo, os números 90 e 100 ganham valor em algumas análises, como unidades para indicar o prazo simbólico, em dias, para Temer conquistar a confiança da população, dos mercados e dos investidores, tanto nacionais quanto internacionais. Nessa aritmética política, com o perdão do poeta Fernando Pessoa, governar é preciso, o poder não é preciso.

Exatos 963 dias separam a quinta-feira 12 de maio de 2016 da segunda-feira 31 de dezembro de 2018. A se confirmar a tendência que se verifica hoje, será essa a duração do mandato reservado a Temer, o tempo que ele tem para tentar mudar o Brasil – ou pelo menos, colocar o País numa trilha de mudança. Desde o dia 1 da sua gestão, porém, a agenda nacional é divida em duas. Uma vislumbra 100% da gestão do novo presidente, seus atos administrativos e políticos e os efeitos de curto, médio e longo prazos que eles podem surtir na vida dos brasileiros. Logo na primeira medida, Temer se apoia em algarismos de fácil compreensão para demonstrar sua intenção de promover a redução do peso do Estado e iniciar um ajuste fiscal real. Os ministérios, que na era Dilma foram 39 e, antes de seu afastamento, chegaram a 32, serão enxugados para 22. De início, esses números são apenas símbolos – é essa, afinal, a sua razão de existir como representações gráficas do conceito de quantidades. No futuro, poderemos avaliar se representarão algo mais, como o demonstrativo de uma nova forma de governar.

A segunda agenda deflagrada com a ascensão de Temer percorre cerca de três quartos de seu mandato, mais especificamente 878 dias. Nela, o dia D é 7 de outubro de 2018, provável data do primeiro turno das próximas eleições presidenciais. Como o presidente já manifestou publicamente sua decisão de não ser candidato, inicia-se no momento de sua posse, ainda que provisória a princípio, a mais longa corrida eleitoral de nossa história. Temer estará cercado de potenciais postulantes por todos os lados e terá de mostrar incrível habilidade política para não permitir que os interesses pessoais de cada um deles se sobreponham aos de sua gestão.

O que torna esse ambiente ainda mais complexo é a ausência de favoritos disparados na maratona presidencial. Pode-se olhar esse fato com viés positivo – existe a oportunidade para que surja um nome novo em um cenário ocupado normalmente pelos mesmos nomes. Ou, ao contrário, perceber-se que esse espaço só está aberto porque os atuais líderes políticos não conseguiram entender as demandas de uma nova geração de eleitores ou se libertar das velhas práticas de compadrio e relações suspeitas de favorecimento econômico. Líder em pesquisas de intenção, o ex-presidente Lula é a expressão máxima desse momento: um candidato sub judice, que pode se tornar inelegível em função das inúmeras denúncias existentes contra ele. Na oposição que agora vira governo, há disputas internas e aspirações conflitantes. Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra (com assento no Ministério Temer) dividem o PSDB. Henrique Meirelles, no comando da Economia, entra no jogo. Marina Silva, da Rede, não convence como alternativa. Todos eles, a cada folhinha arrancada do calendário, estarão de olho nos números de suas próprias popularidades. Terão de fazer algo concreto para se manterem em pé nessa prova de longuíssima distância.

Luiz Fernando Sá, diretor de Mídias Digitais e Projetos da Editora Três