Ele aparece e desaparece da terra, mas não é fantasma, ele aparece e desaparece do céu, mas não é ovni. Quem é ele? Explica-se: ele é um homem, e é sobre esse homem que tratará essa seção. Mais: essa semana a seção Por onde anda tem de trazer embutido, obrigatoriamente, um ponto de interrogação – e o leitor descobrirá o porquê. E tem também de ser separada em duas partes: uma é por onde andou o nosso personagem; a outra é por onda ele anda?

A primeira parte: ele andou, como promotor de Justiça, atuando profissionalmente no Ministério Público de São Paulo. Ele andou também pela cidade paulista de Atibaia, onde morava num elegante condomínio fechado com a sua mulher, Patrícia Aggio Longo, da qual tinha sido professor no curso de direito. Por esses lugares ele andou até a madrugada do dia 4 de julho de 1998. Nessa madrugada, ao se aproximar do condomínio, numa estrada de terra e dentro de uma picape, ele deu dois tiros na cabeça da mulher. Morreu Patrícia e o bebê que ela carregava no ventre. Soube-se depois, com exames de DNA, que o filho não era dele. Daí para a frente, ele andou por 43 dias no Regimento 9 de Julho de Cavalaria, onde esteve preso, e voltou a andar em liberdade porque a Justiça lhe permitiu que aguardasse o julgamento em liberdade. Na sessão do julgamento no Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo, por lá ele não andou. Foi-lhe permitido aguardar em casa o resultado do julgamento, uma vez que ele jurara se apresentar à Polícia caso fosse condenado pelo assassinato de Patrícia. Por unanimidade ele foi julgado culpado. Foi condenado a 16 anos de prisão. E virou fantasma, virou ovni: fugiu. Como foragido, ele ainda andou em terra pelo Paraná. A polícia foi lá prendê-lo. Fantasma, ele evaporou. Como foragido, ele ainda andou, desculpem, ele ainda voou de asa-delta pelos céus de Florianópolis no final de 2001. Ovni, ele sumiu. Agora vamos à segunda parte, e então o leitor vai entender o porquê da obrigatoriedade do ponto de interrogação de que se falou no início desse texto.

A segunda parte: por onde anda o ex-promotor de Justiça Igor Ferreira da Silva, 37 anos, condenado pelo assassinato de Patrícia Aggio Longo? A interrogação que não quer parar de interrogar perdura por 1.282 dias – contando da data da condenação até o fechamento dessa edição. Se a polícia prendê-lo nesse sábado 23 de outubro, o leitor que nos desculpe o ponto de interrogação.