Law kin Chong pode entrar para a história como o homem que esculhambou o suborno no Brasil e inverteu a lógica da pechincha. Ele disparou publicamente um tiro de canhão contra o deputado Luiz Antonio de Medeiros na segunda-feira 18: “O deputado tentou me extorquir.” Law está preso e é acusado, justamente do contrário, pelo próprio Medeiros – ele, Law, é quem teria proposto dar dinheiro ao deputado, então presidente da CPI da Pirataria. Teria feito isso para que Medeiros o poupasse. Segundo essa CPI, Law é o maior contrabandista do Brasil. Tentativa de extorsão, no entanto, foi o máximo que a CPI conseguiu lhe imputar. “Ele me acusa porque tem a certeza de que será condenado”, respondeu Medeiros. O deputado já tem contra si um pedido de inquérito no Supremo Tribunal Federal despachado pela Procuradoria Geral da República: visa a averiguar se Medeiros e o seu assessor parlamentar, o policial rodoviário Antonio Fernando de Miranda, agiram sem lisura na CPI. O tiro de canhão dado por Law abre agora uma cratera nesse caso. ISTOÉ teve acesso a documentos referentes ao encontro entre Law e Medeiros no dia 27 de maio, na cidade paulista de Araraquara. O encontro ocorreu no Hotel Eldorado. Um dos trechos da conversa remete à pechincha e leva a uma indagação. Medeiros diz para Law: “P… m…., tu é um comerciante, heim cara? P… q.. p…. P…. (…)”. O desfile de palavras tão leves deveu-se ao fato de que Law estava pedindo a Medeiros para parcelar e baixar o valor do suposto suborno de R$ 2 milhões para
R$ 1,5 milhão. Medeiros alega que essa conversa ocorreu e foi gravada (o policial Fernando montou a arapongagem ambiental) para produzir provas contra Law. Agora a indagação envolvendo a pechincha: se Law é quem propõe o suborno, tem sentido ele propor um valor e ele próprio ficar pechinchando? Se isso aconteceu, é a esculhambação do suborno no Brasil. Na melhor das hipóteses, Law e Medeiros protagonizaram o samba do suborno doido; na pior, o diretor de bateria atravessou o ritmo. Na mais ampla lei de mercado, quem pechincha é quem cobra ou quem é cobrado? Mais: nessa mesma conversa, Law e Medeiros discutem quem pagaria a porcentagem dos intermediários. O deputado Medeiros, no empenho de produzir provas, chega ao ponto de esticar a conversa até bater o martelo com Law de que o valor seria dividido: cinco por cento para cada um, sobre US$ 1,5 milhão.

Em SP a Corregedoria do Departamento de Inquéritos Policiais e Polícia Judiciária acolheu uma denúncia que fala de policiais civis e federais, fala de extorsão, fala da máfia dos lacres das bombas dos postos que adulteram combustível e fala do deputado Medeiros. A Corregedoria já instaurou procedimento apuratório a partir da formalização dessa denúncia. No que diz respeito a Medeiros, a Corregedoria comunicará o fato à Procuradoria Geral da República