O gerente comercial paulista Danilo Lapastine, 36 anos, vivia uma rotina não muito agradável. “Chegava em casa estressado e não conseguia desligar. Continuava trabalhando, de mau humor. Hoje, chego mais calmo e, em vez de trabalhar, passo horas brincando com meu filho”, conta. O segredo dessa virada está num ato simples, barato e ao alcance de qualquer um: cantar. Há cerca de um mês, Lapastine entrou num coral que se reúne às sextas-feiras à noite, em São Paulo. No início, o gerente só queria aprender a cantar para melhorar sua performance no coral da igreja que frequenta. Depois, percebeu que o canto é uma terapia capaz de amenizar as tensões cotidianas. “Eu me desligo de tudo, quebro a rotina. Entro na aula cansado, mas saio renovado”, diz. Lapastine chega a trabalhar até 13 horas por dia, envolto em metas, prazos e burocracias. “Meu trabalho é 100% stress. O coral me ensinou até a controlar minha impulsividade”, garante.

Como Lapastine, muita gente tem recorrido à música para se livrar do nervosismo. Nas contas da cantora Vivi Keller, professora no coral do qual participa o gerente Lapastine, nos últimos cinco anos a procura dobrou. “As pessoas perceberam que a música é uma forma de combater o stress”, justifica. De fato. E esse benefício está muito associado ao fato de as canções lidarem diretamente com as emoções. Nos tempos de hoje, isso é de uma ajuda e tanto. Afinal, a maioria das pessoas que vivem em grandes cidades trabalha com atividades que estimulam a lógica, a objetividade e o raciocínio. Os sentimentos ficam para depois. Há, portanto, um desequilíbrio que acaba gerando tensões. É nesse ponto que soltar a voz em uma bela canção é capaz de milagres. “Enquanto o hemisfério esquerdo do cérebro, responsável pelas funções lógicas, fica sobrecarregado, o direito, que corresponde às emoções, à intuição, à criatividade e ao relaxamento, fica ocioso. A música mexe com o lado direito do cérebro, ajudando a equilibrar os dois hemisférios”, explica a psicóloga Ana Maria Rossi, especialista em stress. Além disso, cantar obriga o indivíduo a respirar corretamente, o que traz ainda mais relaxamento.

A experiência de Graziela Sanches, 36 anos, confirma a teoria. Cantora lírica e professora particular de técnicas vocais, ela vê, na prática, o quanto as aulas mexem com a emoção de seus alunos. “A música ativa o lado emocional. Tem muita gente que chora na aula”, conta. Entre seus alunos já passaram profissionais de várias áreas, inclusive executivos workaholics loucos para desfrutar de momentos para relaxar, entrar num outro mundo, distante de seus problemas cotidianos. “O canto desvia as pessoas do foco principal de suas vidas. Elas se entregam ao ritmo, à melodia”, diz Graziela. A dançarina e estudante de psicologia Karina Felli, 21 anos, uma das alunas da cantora, assegura ter encontrado no canto a calma e o controle que procurava. “Cantar influenciou até meu jeito de falar. A dicção está melhor e solto mais a voz”, conta. Cantar também estimula o cérebro a fabricar maiores quantidades de serotonina e endorfina, substâncias que promovem no organismo relaxamento e uma deliciosa sensação de bem-esta


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias