Dez mil metalúrgicos saíram em passeata pela zona sul de São Paulo com o objetivo de parar a categoria no dia 30 de outubro de 1979. A corrente estancou em frente da Sylvania, fábrica de lâmpadas no bairro  de Santo Amaro, onde um policial militar decidiu pôr ordem na casa: Santo Dias, membro da pastoral operária e líder sindical, tinha 37 anos quando foi atingido por um tiro. “Ele notou que um companheiro era conduzido ao camburão e resolveu resgatá-lo. Pedia calma aos colegas quando foi morto”, conta o metalúrgico Waldemar Rossi, 71 anos, atual coordenador da pastoral operária. Em 1979, o sindicato dos metalúrgicos de São Paulo era presidido por Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão, apoiado pelos militares. Coube à oposição organizar as greves daquele ano, quando o sindicato permaneceu omisso. Naquele dia, reivindicavam-se 83% de reajuste salarial. Santo Dias liderava o movimento.

O autor do disparo que o matou foi Herculano Leonel, primeiro policial  condenado em um tribunal militar por motivo político no Brasil. Alguns anos  depois, porém, a defesa recorreu e ele foi absolvido. Santo Dias virou nome  de um parque, uma praça e seis ruas só na Grande São Paulo. Tornou-se patrono do Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo, órgão criado em 1980 sob as bênçãos do então cardeal dom Paulo Evaristo Arns e presidido por Hélio Bicudo, vice-prefeito da capital. Foi dom Paulo quem rezou a missa de corpo presente, realizada na Catedral da Sé lotada. “A influência de Santo Dias é enorme. Minha oração em sua missa foi publicada em um livro didático na Austrália”, conta dom Paulo.

Santo deixou a esposa, Ana Dias, e os filhos Santo Dias Filho e Luciana, então com 12 anos. Santinho tornou-se metalúrgico e hoje tem uma loja de material de construção. Luciana, 37 anos, é pedagoga e acaba de escrever, em parceria com a jornalista Jô Azevedo e com a fotógrafa Nair Benedicto, o livro Santo Dias – quando o passado se transforma em história (Cortez Editora). A obra será lançada na sexta-feira 29 durante ato em memória de Santo Dias na Câmara Municipal de São Paulo.