Roda viva foi pouco na festa de comemoração dos 18 anos do programa de entrevista da TV Cultura que é um marco do gênero na tevê brasileira. Tucanos, petistas, pefelistas de todos os escalões e os adeptos de manobras radicais como o compositor Lobão, a senadora Heloísa Helena e João Pedro Stédile se misturaram com desenvoltura aos pesos pesado do PIB brasileiro, como os empresários Antônio Ermírio de Moraes, Benjamin Steinbruch e Paulo Scaff, novo presidente da Fiesp. A arena, que já desnudou a alma de 800 personalidades nacionais e estrangeiras de todos os segmentos da sociedade, foi aberta na segunda-feira 18 para celebrar e brindar a contribuição do Roda Viva para fortalecer a democracia ao longo desses anos em que está no ar.

Democracia foi o que mais se viu nos estúdios abertos aos convidados, sempre recepcionados por Marcos Mendonça, presidente da Fundação Padre Anchieta. Um forte abraço do empresário Antônio Ermírio em Stélide, líder maior do MST, chamou menos atenção do que a conversa dos dois ao pé do ouvido sobre acreditar ou não no Brasil e nas críticas ao capital financeiro. Os dois, nacionalistas de carterinha de times diferentes, convergiram com empolgação no papo. A senadora Heloísa Helena, uma espécie de musa da festa que não parou de distribuir autógrafos e receber cumprimentos por “ser coerente” e “ter saído do PT”, fez as pazes com o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra. Eles tiveram um desentendimento feio em plenário por causa de uma “fofoca machista”, contou ela. Ao lado da mulher, Mônica, Serra parou em frente da senadora, deu-lhe um beijo no rosto e a provocou: “Não vou perguntar em quem você vai votar porque você não vota aqui.” Sorrindo, ela devolveu: “Você sabe que em nenhum de vocês dois.” Novos abraços, despedida e uma dúvida: “Sabe que até hoje não sei se foi mesmo ele que fez aquela fofoca – de que eu fazia e acontecia porque tinha muito senador querendo me namorar”, afirmou.

Heloísa distribuiu autógrafos e foi recebida com chamego até por tucanos como o deputado Alberto Goldmann, que apresentou a senadora à mulher dizendo ser ela uma grande fã de seu estilo. Era a antítese dos ex-companheiros de partido, como o presidente do PT, José Genoino, que se viu enfiado em várias saias-justas. O jornalista Carlos Brickmann, que já assessorou Paulo Maluf, ao avistar Genoino, abriu os braços e bradou: “Meu malufista predileto.” O petista saiu de fino. Ao cruzar com o governador Geraldo Alckmin, o presidente do PT retribuiu com um frio cumprimento a saudação feita pelo tucano, que o chamou de “grande Genoino”. Um reflexo da temperatura máxima do clima das eleições em São Paulo. O cantor Lobão, que vestia uma camiseta escrita em inglês “100% fogo amigo”, resumiu o espírito da comemoração: “Estou me divertindo muito com essa fauna, flora. Aliás, sou um genérico”, disse, ao avistar Serra.

Marcos Mendonça disse que o resultado do sucesso do Roda Viva “é exatamente essa diversidade de pensamento. O evento representa essa multiplicidade”. Depois de 18 anos, o programa terá um novo cenário, elaborado por Marcos Weinstock. Ele volta a ter um andar acima dos entrevistados e retoma sua antiga função, que era a de abrigar a platéia de convidados. A inovação desta vez é que cada pessoa da platéia vai portar um aparelho para medir a tensão (view fact) do programa e o desempenho dos entrevistados e dos entrevistadores. “O Roda Viva só tem a comemorar. É um dos poucos programas da tevê brasileira que têm essa idade e vigor. Ele vai passar por uma reformulação, mas certamente continuará fazendo a repercussão dos grandes temas nacionais”, disse Weinstock.