Dentro dos olhares internacionais de entidades ligadas à defesa do meio ambiente, a disputa eleitoral pela Prefeitura de Manaus também
chama a atenção de gigantes multinacionais instaladas no Estado, como Honda, Yamaha, LG, Sansung, Philips, etc., importantíssimas para qualquer política de geração de empregos e desenvolvimento. E, como é tradicional no Amazonas, a briga eleitoral se dá voto a voto. De um lado está o veterano pefelista Amazonino Mendes, já conhecido por promover um aprovado modelo de política econômica e ambiental implantado no período em que governou o Estado, entre 1994 e 2002. Do outro lado está o novato Serafim Corrêa, do PSB, político que viveu na sombra de Amazonino nos últimos anos e agora aposta em um discurso da renovação como seu principal mote de campanha. Assim como divide os manauenses, a campanha política de Manaus também divide o governo federal, que tenta agradar a gregos e troianos. Serafim carrega debaixo dos braços o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. Amazonino abraça o governador Eduardo Braga, amigo de todas as horas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nessas últimas semanas de campanha, porém, a ruptura entre a criatura Serafim e o criador Amazonino
deixou de ser meramente política.

Na segunda-feira 18, o vereador Sabino Castelo Branco (PP-AM) ocupou a tribuna da Câmara Municipal para contar uma história rocambolesca. Disse que Maria Soraia Helias Pereira, 33 anos, médica anestesista, teria engravidado do candidato Serafim Corrêa, a quem acusava de patrocinar uma tentativa de aborto. A história não durou 24 horas. No dia seguinte, a imprensa local mostrou que a mesma Soraia já havia contado o mesmo enredo no Recife (PE), envolvendo em sua trama, como pai da suposta criança, o desembargador Etério Galvão. A anestesista acabou sendo desmascarada na Justiça e, segundo Galvão, trata-se de uma pessoa com graves problemas de saúde, que não pode engravidar por ser estéril. Em Manaus, Serafim não perdeu tempo. Empenhado em construir a imagem de “bom moço”, o candidato do PSB imediatamente assumiu o papel de vítima e atribuiu a denúncia do vereador a uma baixaria eleitoral de Amazonino. “Não tenho nada com isso”, respondeu o pefelista. “Uma armação dessa é uma agressão à família amazonense, e não contra o Serafim.” Mas nem mesmo a trapalhada promovida pelo vereador fez de Serafim o mocinho da disputa manauara. Contra ele circula um explosivo bilhete assinado pelo senador Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM), líder da oposição no Senado. De janeiro a julho de 1989, Serafim foi secretário de Finanças da Prefeitura de Manaus, quando Arthur Virgílio era o prefeito. O bilhete foi encaminhado por Arthur Virgílio em julho de 1992, como resposta a uma tentativa de chantagem promovida por Serafim e acabou fazendo parte de um processo, já arquivado, contra o atual senador.

Outro ingrediente que elevou a temperatura na disputa eleitoral de Manaus é um dossiê envolvendo a família de Rita de Araújo Calderaro, proprietária do jornal A Crítica, o maior do Estado. A papelada, já em poder da Polícia Federal e da CPI do Banestado, mostra diversas remessas de milhares de dólares para o Exterior, que, segundo deputados da CPI, seriam ilegais. A denúncia pode abalar a candidatura de Serafim, que conta com o apoio incondicional do jornal.

Obras – Nos programas eleitorais de tevê, Amazonino evita entrar na polêmica sobre dossiês e acusações pessoais. Ele aposta nas obras realizadas durante os 25 anos em que seu grupo político esteve à frente do governo. Na última semana, o governador Eduardo Braga também resolveu reforçar seu apoio. Mergulhou na campanha de Amazonino, hipotecando-lhe o prestígio político e dando demonstrações de que possui força suficiente para apostar na própria reeleição em 2006. Já Serafim Corrêa expõe ao eleitorado aliados mais heterogêneos, como o comedidos senador Jefferson Peres (PDT-AM) e a agitada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). A disputa acirrada, avaliam ambos os candidatos, pode fazer com que o vencedor chegue ao governo municipal respaldado por uma diferença de aproximadamente mil votos. Nessa reta final de campanha, Amazonino insiste na tese de que, com o apoio do governador Eduardo Braga, poderá concluir obras de grande porte, como viadutos, alargamento de avenidas, saneamento básico e um forte investimento na área de saúde e educação. A parceria do governo federal Eduardo já conquistou e a possível vitória de Amazonino pode completar um grande mutirão envolvendo as três esferas de poder.