Entre 18 mil e 12 mil anos atrás, sobreviver era um lance de sorte. Ainda mais para uma criatura de um metro de altura, que para se alimentar tinha de enfrentar ratos e lagartos gigantes, como o dragão-de-komodo, com 3,5 metros de comprimento. A descoberta do crânio e partes do esqueleto desse pigmeu (na verdade, uma pigméia) e de outros seis indivíduos trouxe à luz um elo perdido do gênero Homo, do qual faz parte o humano moderno (Homo sapiens). O Homo floresiensis, como foi batizado, é o achado mais importante da paleoantropologia nas últimas décadas, e foi publicado pela revista Nature na semana passada.

No local, uma caverna na Ilha de Flores, na Indonésia, os cientistas australianos Peter Brown e Michael Morwood encontraram ainda armas rudimentares, usadas há 800 mil anos pelo Homo erectus, nosso ancestral comum. “O H. floresiensis é descendente do H. erectus”, disse Brown. Para Walter Neves, paleontólogo da Universidade de São Paulo (USP), resta saber se o seu tamanho é reflexo da adaptação às condições da ilha. “Há dois anos, foi encontrado na Ásia o fóssil de um H. erectus de 1,50 m”, diz. Falta descobrir se os pigmeus guerrearam com os vorazes caçadores humanos ou se viviam em harmonia.