Do calor e do brilho do Sol depende toda a vida na Terra, e ainda assim a imensa bola de gás incandescente que alimenta a nossa existência é uma ilustre desconhecida. Muitos astrônomos já tentaram desvendar os mistérios que o italiano Galileu Galilei vislumbrou há quatro séculos, ao notar manchas escuras na superfície da estrela. Só nos últimos 20 anos, porém, os telescópios e observatórios de alta tecnologia começaram a investigar esses fenômenos com maior atenção.

A mais recente dessas pesquisas foi revelada na semana passada e traz um panorama pouco animador. Astrônomos britânicos e alemães reconstruíram a história solar dos últimos 11.400 anos. E notaram que o astro rei nunca esteve tão violento quanto nas últimas sete décadas. Eles chegaram a essa conclusão ao estudar as manchas escuras sobre a estrela, as áreas de intensa energia magnética que em geral indicam um aumento na atividade solar. Na prática, isso se traduz em erupções de luz e gás carregadas de partículas elétricas, que partem em direção à Terra na forma de tempestades cósmicas.

Só para comparar, uma nuvem dessas pode liberar energia equivalente a 200 bilhões de bombas de Hiroshima. Nem todas as explosões chegam à Terra. Em 2001 e no final de 2003, no entanto, as tempestades cósmicas surpreenderam os meteorologistas. Chegaram com tanta intensidade, que tiraram do ar uma dezena de satélites de comunicação, provocaram interrupção no fornecimento elétrico em parte da Escandinávia e provocaram balbúrdia nos sistemas de controle aéreo.

As manchas solares costumam aparecer e reaparecer em intervalos mais ou menos fixos, com duração de 11 e de 88 anos. Dessa vez é diferente, e pouca gente sabe exatamente o que ocorre. “Nos últimos 11.400 anos, o Sol gastou só 10% de seu tempo num nível de atividade magnética similar ao de hoje. Quase todos os períodos de agitação foram mais curtos do que o episódio atual”, compara Sami Solanki, do Instituto Max Planck, da Alemanha.

Há muito tempo, os cientistas tentam estabelecer relações entre as manchas solares e as mudanças climáticas ocorridas na Terra. Ainda é cedo para um veredicto final. O episódio raro de violência estelar pode indicar que o Sol contribuiu para a mudança climática no século XX, mas é pouco provável que ele seja a causa dominante do aquecimento global do planeta, avisam os astrônomos.

Estudos anteriores sugerem que os períodos mais gelados da Terra estavam relacionados à pouca incidência de manchas solares. Entre o final do século XVI e o começo do XVII, por exemplo, quase não houve manchas no Sol, o que coincidiu com o período chamado de miniera glacial na Europa e na América do Norte.

O Sol é um imenso reator termonuclear. Seu núcleo chega a cerca de 20 milhões de graus centígrados e sua pressão é 100 bilhões de vezes a da Terra. Por causa disso, os átomos de hidrogênio e hélio ficam tão próximos uns dos outros que se fundem, liberando energia. As chamas chegam a ter dez vezes o tamanho da Terra em altura e os ventos solares sopram à velocidade de 160 mil quilômetros por hora. Nesse processo, cada centímetro quadrado do Sol emite tanta luz quanto uma lâmpada de seis mil watts. O que se teme é que a mesma energia que nos mantém vivos possa ser a razão do sumiço da raça humana.