A morte do zagueiro Serginho, do São Caetano, na quarta-feira 27, comoveu o País. Paulo Sérgio Oliveira da Silva, 30 anos, desabou em campo, no estádio do Morumbi (SP), no jogo contra o São Paulo pelo Campeonato Brasileiro. Do instante em que caiu até o momento em que o falecimento foi anunciado (no Hospital São Luiz, para onde o atleta foi levado), as histórias se multiplicaram. Desde a de que o jogador sofria de um mal cardíaco grave e assinara um termo de responsabilidade para continuar atuando até a de que o atendimento dado ao rapaz não fora eficaz.

Serginho teve uma parada cardiorrespiratória. É um caso de morte súbita (quando uma pessoa falece em até 24 horas após a parada). Na maioria das vezes, o evento se inicia com uma alteração nos batimentos. Acelerado, o coração não distribui o sangue como deveria e pára. Entre as causas do problema estão o infarto e a insuficiência cardíaca. Para evitar a morte, existem técnicas de ressuscitação. Entre elas estão a respiração boca a boca e a massagem cardíaca. Foi o que os médicos fizeram em campo. Especialistas em emergência, porém, sustentam que o auxílio foi mal executado. “A remoção piorou a qualidade da massagem e fez perder tempo”, afirma Agnaldo Píspico, da Sociedade de Cardiologia de São Paulo.

Até o zagueiro receber os choques dados pelo desfibrilador, já dentro da ambulância, teriam se passado cerca de três minutos. Esse aparelho indica se há descompasso nos batimentos e tenta corrigi-los por meio de descargas elétricas. Mas é preciso que seja usado o mais rapidamente possível. “Quem recebe o atendimento nos primeiros quatro minutos tem 80% de chances de sobreviver. O atendimento deve ser dado no local”, explica Antônio Mansur, do Instituto do Coração. O médico Dino Altmann, do São Luiz, rebateu. “É melhor desfibrilar o paciente em um lugar adequado”, disse. As condições cardíacas de Serginho também geraram discussão. Na manhã seguinte a sua morte, houve muita boataria sobre a existência de problemas cardíacos. Até que sua mulher, Elaine, confirmou que o zagueiro sofria de arritmia, outro fator de risco de parada cardiorrespiratória.

Mortes de atletas como Serginho assustam. Acredita-se que um desportista esteja cercado de cuidados médicos. Não é bem assim. Durante 25 anos, médicos do Hospital do Coração e do Instituto Dante Pazzanese (SP) examinaram quatro mil atletas de diversas modalidades. Os testes mostraram que 8% dos que tinham menos de 35 anos apresentaram problemas cardíacos que necessitavam de tratamento. “Deve-se exigir a realização de exames cardiológicos nos atletas. Caso contrário, corre-se o risco de uma nova tragédia”, afirma o cardiologista Nabil Ghorayeb.

O drama de Serginho suscita temores entre os domingueiros da bola. Os médicos orientam que os “atletas”  de fim de semana (qualquer que seja a prática) ajam com bom senso. “Se a pessoa já teve dor de cabeça violenta e repentina, convulsão, se tem pressão alta, sobrepeso ou a popular batedeira no peito, deve procurar um médico antes de iniciar uma atividade intensa. Se o sujeito nunca faz nada, melhor esquecer a pelada no dia do churrasco”, diz Paulo Zogaib, especialista em medicina esportiva. O cardiologista Ricardo Kortas, do Hospital Beneficência Portuguesa (SP), também recomenda que o praticante de esportes como futebol e tênis se submeta periodicamente a um teste ergométrico de esforço. “É preciso prestar atenção se o resultado aponta indício de arritmia ou entupimento das coronárias”, afirma. Se isso ocorrer, antes de calçar as chuteiras o ideal é procurar um médico.