Viviana Limpias é boliviana e vive no Panamá. Pouco entende de futebol e mal conhece os jogadores da Seleção Brasileira. Mas, em agosto, foi uma das poucas pessoas que puderam acompanhar, de perto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os atletas brasileiros, no dia do “jogo da paz” com o Haiti, em Porto Príncipe. Viviana chorou de emoção e diz ter sido este um dos momentos mais emocionantes de sua vida. “Era impossível ficar indiferente ao ver os haitianos felizes e emocionados, ajoelhando-se e abraçando os brasileiros. Tudo isso pelo amor ao futebol”, relata Viviana, oficial de comunicação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

O diretor do Unicef para a América Latina e o Caribe, Nils Kastberg, sueco filho de um pernambucano de Beberibe, também faz coro: “Aquela festa emocionante mostrou que o futebol do Brasil pode ajudar e muito a trazer esperança e alegria para crianças e jovens de países da África e do Caribe.” Nils, então, procurou reforçar ainda mais seus laços com o Brasil e convenceu-se de que o País tem um papel importante na ajuda a outros mais pobres nessa região. Ele acredita que a força e o prestígio do futebol podem ajudar a mobilizar outros países pela causa da infância.

No saguão do Hotel Intercontinental em San José, na Costa Rica, durante a VI Conferência de Ministros e Autoridades da Infância de Países Iberoamericanos, nos dias 18 e 19, ele anunciou que foi firmada uma parceria com a empresa de marketing esportivo Traffic para organizar partidas e eventos com jogadores brasileiros, com renda destinada ao Fundo das Nações Unidas. O primeiro compromisso já está agendado: um jogo entre a Seleção Brasileira campeã de 94 e o Haiti, no dia 13 de novembro, em Miami – três dias depois da partida de despedida de Romário, contra o México, na cidade americana. O dinheiro arrecadado vai para a sede haitiana do Unicef.

Nils também comemorava o lançamento do PCI 2, um programa de cooperação internacional assinado com Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau, Timor Leste, Bolívia e Paraguai para repassar a experiência de sucesso do Ministério da Saúde do Brasil no combate à Aids. A parceria – detalhada em encontro em Brasília iniciado na quarta-feira 27 – garantirá remédios, formação e treinamento a profissionais de saúde desses países. O Unicef, especificamente, pediu ao Brasil ajuda para oferecer o teste rápido de HIV durante a gravidez para adolescentes da América Latina, da África e do Caribe. E fará a doação do kit. Quando o teste não puder ser feito na gravidez, ocorrerá durante o parto.

“Há 15 anos, a Suazilândia tinha 8% da população infectada pelo HIV, o mesmo índice que tem hoje o Haiti. Hoje, a Suazilândia está com 44%. Se nada for feito, o Haiti e outros países pobres estarão na mesma situação daqui a 15 anos”, prevê Nils Kastberg. “Por isso, vamos oferecer tudo o que o Brasil tem disponível em termos de tecnologia, experiência e capacidade instalada para o enfrentamento da epidemia”, garante o epidemiologista Pedro Chequer, coordenador do programa nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde.

O Unicef está preocupado com o grande número de meninas grávidas na  América Latina, na África e no Caribe que, infectadas, possam disseminar a doença. Na Costa Rica, por exemplo, 20% das grávidas são adolescentes.
Dessas, 20% são menores de 15 anos. O mais assustador é que em 95% dos casos elas seriam vítimas de incesto, segundo confidenciou ao diretor do Unicef à ministra de Saúde local, Maria do Rosário Sanz. Outra ministra da Costa Rica, Rosália Gil Fernández, da Infância e Adolescência, ressaltou, no entanto, que o número ainda precisava ser checado. “Mas a verdade é que no Caribe e em outros países da América Central há o costume de a menina ser desvirginada por alguém da família. Para eles, é uma questão cultural. Para o Unicef, é caso de abuso”, observa Nils. Por tudo isso, lembra Pedro Chequer, Aids hoje é uma questão de direitos humanos, e não apenas de saúde.