Pela primeira vez desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando o Exército israelense ocupou os territórios da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, o Parlamento de Israel (Knesset) aprovou um plano de retirada de assentamentos israelenses nesses territórios ocupados. O plano de remoção, bancado pelo primeiro-ministro Ariel Sharon, prevê a retirada dos oito mil colonos em 21 assentamentos na Faixa de Gaza e de mais quatro assentamentos na Cisjordânia. Cada família receberia entre US$ 200 mil e US$ 300 mil de indenização e os colonos que se recusassem a sair poderiam ser condenados a cinco anos de prisão. A decisão é histórica, mas ainda não garante definitivamente a retirada unilateral israelense. Cada fase de implementação do plano terá de ser votada pelo gabinete ministerial.

A vitória do primeiro-ministro israelense (que, ironicamente, foi um dos principais apoiadores da expansão dos assentamentos nas décadas de 70 e 80) rachou  o seu próprio partido Likud, de direita. Historicamente, a direita israelense sempre foi contra a remoção dos assentamentos – uma plataforma política mais ligada ao Partido Trabalhista, de centro-esquerda. Tanto é que quase metade dos parlamentares do Likud votou contra a proposta, que só foi aprovada (por 67 votos contra 25) graças ao apoio maciço dos trabalhistas. Enfrentando forte resistência dentro do partido, Sharon ameaçou demitir os ministros que se opusessem ao plano e recusou qualquer possibilidade de convocar um referendo sobre o assunto, dizendo que isso atrasaria a remoção em mais de um ano. Quatro ministros do Likud, entre eles o ex-primeiro-ministro e rival de Sharon, Benjamin Netanyahu, ameaçaram se demitir caso o referendo não seja convocado. Segundo as pesquisas de opinião, mais de 65% dos israelenses aprovam a retirada.

Milhares de colonos manifestaram sua indignação na frente do Knesset, durante o discurso de Sharon, que está sob proteção de fortíssimo esquema de segurança com 16 guarda-costas do serviço secreto de Israel. Há exatos nove anos, o então primeiro-ministro, o trabalhista Itzhak Rabin, foi assassinado por um radical israelense de extrema direita. Classificando como “a decisão mais difícil” de
sua vida, Ariel Sharon, ao discursar para os colonos, citou Menachem Begin  (1913-1992), o líder histórico da direita israelense: “Vocês são um povo maravilhoso, mas sofrem de uma fraqueza: desenvolveram um complexo de messianismo.” O diretor do Centro Moshe Dayan de Estudos do Oriente Médio, Asher Susser, afirmou ao The New York Times que a decisão de remover os assentamentos judaicos em Gaza “é uma das mais importantes da história de Israel”. “Isso não é sobre Gaza – isso significa a abertura do debate sobre a alma de Israel. Nós estamos, pela primeira vez, discutindo o que é o Estado de Israel e como ele deve ser governado. Israel é uma democracia secular ou um Estado governado pela lei religiosa judaica?”, indaga Susser.