Pela primeira vez em 32 anos, a maioria dos jovens americanos com direito a voto vai participar de uma eleição presidencial. Pesquisadores dos dois partidos e também independentes esperam que 54% dos cidadãos na faixa etária entre 18 e 25 anos encarem as sessões eleitorais do país no próximo dia 2. Em pleitos anteriores, desde 1972, o comparecimento desse grupo ficou entre 34% e 42%. Tanto republicanos quanto democratas garantem que têm a preferência da moçada. “Os democratas dizem que a juventude está com eles; diziam a mesma coisa em 1972, quando o eleito foi o republicano Richard Nixon”, diz Frank Luntz, analista de pesquisas do Partido Republicano. À esta alusão se contrapõem os estádios lotados pelos roqueiros pró-John Kerry, o candidato democrata, nos concertos Rock for change, que reúne músicos como os dos grupos R.E.M, Dixie Chicks, e Bruce Springsteen. Os CDs de rock alternativo intitulados Rock against Bush, volumes I e II, também estão batendo recordes de vendas e já chegaram às primeiras posições da lista de sucessos da revista musical Billboard. O mais certo, porém, é que exista uma divisão – ainda que desigual – neste segmento da sociedade. De todo modo, esses noviços da urna trazem, para a briga política, um espírito de “guerrilha eleitoral” que vai do cômico ao super-sério, numa demonstração de grande vigor.

Os veículos dessa participação singular são tanto tradicionais quanto altamente tecnológicos. A mídia mais antiga – que remonta os protestos dos anos 60 – é a camiseta. Novamente, as vestes voltam a ganhar slogans de rebeldia, com muita criatividade. Pudera: os nomes dos candidatos republicanos se prestam a trocadilhos infames, obscenos e bem- humorados. Bush, em inglês, pode ser sinônimo de arbusto, ou é gíria para a genitália feminina. Já Dick (o apelido de Richard, do vice-presidente Dick Cheney) é gíria para o órgão masculino. Pulando na oportunidade, os partidários de Kerry usaram o silk-screen para gravar mensagens como as das camisetas vendidas por John Ross na loja Mod World, na baixa Manhattan. “My Dick would be a better vice-president” (Meu pênis seria um vice-presidente melhor), esbraveja um exemplar.

“A campeã de vendagens é uma camiseta para mulheres. Vendemos mais de mil desde a convenção republicana em Nova York”, diz Ross. Ela contém a frase “I Prefer My Bush” (“Eu prefiro minha genitália”). Outra que faz o mesmo tipo de referência é unisex: “I Lick Bush in 04”, esta uma referência ao famoso “I Like Ike” – da campanha do presidente Dwight (Ike) Eisenhower (1953-1961). Só que lick é “lamber”. Os partidários da dupla republicana também usam do mesmo expediente, mas optam por slogans mais pudicos e com fundo religioso – como convém ao eleitorado do presidente. “Once Again God Is Speaking Through A Bush!” (“Novamente Deus Está Falando Através de um Arbusto!”), numa menção à moita ardente usada pelo Todo-Poderoso para se comunicar com Moisés. Os judeus também entraram na refrega usando a frase “I Always Believed In The Holly Bush” (“Eu Sempre Acreditei no Santo Arbusto”), colocada sobre a figura de um Menorah (o candelabro sagrado israelita, que é a representação do arbusto ardente visto por Moisés). Esquecem-se, porém, de um dos dez mandamentos ditados pelo arbusto, o que proíbe a invocação do nome do Senhor em vão.

Mas são as mensagens eletrônicas as ferramentas preferenciais dos jovens neste pleito. Citam sempre o exemplo do que aconteceu na Espanha, em março último, quando a juventude se autoconvocou para votar no Partido Socialista nas eleições. Munidos de telefones celulares que permitem o envio de textos-mensagens, os novos eleitores estão trocando informações, verificando as pesquisas e dando instruções táticas. “Pela telinha do telefone, a gente fica sabendo das necessidades de outros jovens que estão fazendo campanhas pelo país”, diz Rebecca Leventhal, do grupo I Decide, que congrega militantes democratas na Universidade de Harvard. Foi assim que se envolveram em outras paragens. “Massachusetts já está garantida para Kerry. A Pensilvânia ainda é considerada um Estado indeciso e nós vamos lá para mudar. Nossos celulares e laptops serão nossas melhores armas. Em pouco tempo, conseguimos convocar multidões para um local que está precisando de militantes.”, diz Rebecca. Se a moçada cabeluda do início dos anos 70 tivesse tanta tecnologia, quem sabe se McGovern teria sido eleito no lugar de Nixon?

Cibereleição: “Essa é a geração que mais bem usou a internet com fins políticos”, diz o pioneiro das doações via eletrônica, Marcos Moulitsas, que já conseguiu US$ 1 milhão para os cofres de John Kerry

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