Há fantasmas que teimam em reaparecer quando assuntos delicados não  são tratados com a devida transparência. Exemplo disso foi o caso das fotos divulgadas pela imprensa, duas semanas atrás, que supostamente seriam do jornalista Vladimir Herzog. O retratado não era ele, mas, nem por isso, as fotos polêmicas deixaram de ser uma prova veemente dos métodos usados pelo  aparato militar durante os anos de chumbo. O episódio mostrou que este  ainda é um nervo sensível. O fato de aquelas fotos não serem do jornalista  Vladimir Herzog, morto nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo, não impede que a sociedade cobre o direito de conhecer as evidências, os documentos, ou seja lá o que for que conte a sua história.

Apesar da negativa dos guardiães dos arquivos secretos da Nação, neste caso os militares, esses registros existem. Prova disso é um dos temas de capa desta edição. Assunto polêmico há 30 anos, a Guerrilha do Araguaia ainda é cercada de interrogações. O repórter Hugo Studart, chefe da sucursal de Brasília da revista ISTOÉ DINHEIRO, teve acesso a preciosas peças deste macabro quebra-cabeça. Embora as autoridades teimem em defender a tese de que os arquivos da guerrilha foram todos incinerados, Studart comprova que boa parte deles permanece intacta, muito bem preservada, e pode, sim, relatar, com riqueza de detalhes, como e onde morreram dezenas de jovens no começo da década de 70, no Centro-Oeste brasileiro. Longe de instigar sentimentos revanchistas ou de caça às bruxas, a tão clamada transparência ainda é a mais sábia receita para que fatos deixem de ser versões e finalmente se transformem em história.