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Um cara estranho
Compositor preferido da nova geração de cantoras, Marcelo Camelo sai-se bem na carreira solo e herda os fãs de sua antiga banda, a Los Hermanos

Joice Tavares
 

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i78392.jpgAletra da música Cara estranho, da banda Los Hermanos, fala sobre um rapaz deslocado que tenta encontrar o seu lugar no mundo. Embora não seja inspirada em nenhuma pessoa real, essa canção bem que poderia se aplicar ao seu criador, o cantor e compositor Marcelo Camelo. Para esse carioca de 30 anos, o grande desafio é o de se fazer entender pela multidão. Sujeito alto e tímido, ele parece se esconder atrás da grande barba, cultivada com esmero, e tem demonstrado não ter a menor vocação para pop star. Dispensa todos os rótulos que lhe atribuem. Mesmo assim, é comparado a grandes nomes da MPB e virou o compositor queridinho da nova geração de cantoras brasileiras, entre elas Maria Rita, que já gravou cinco composições suas, Roberta Sá e Fernanda Porto.

Num país que carece de grandes vozes masculinas, Camelo arrisca-se agora em carreira solo com o CD Sou/nós, lançado por seu selo, o Zé Pereira, e não tem desapontado seus fãs. Lançado em setembro, o novo trabalho foi testado ao vivo pela primeira vez no festival No Ar Coquetel Molotov, no Recife, que aconteceu no mesmo mês: o show teve ingressos esgotados e foi acompanhado por um público caloroso, como acontecia nas apresentações do Los Hermanos, grupo que estourou com a música Ana Júlia. A mesma receptividade repetiu-se depois com as apresentações do Tim Festival. E, até o final do ano, a turnê, que já foi vista por mais de 15 mil pessoas pelo País, passará pelo Rio de Janeiro, Brasília e Manaus.

Camelo tinha ansiedade em mostrar as novas músicas ao público herdado de sua antiga banda, que tem um comportamento fiel, como o da extinta Legião Urbana, de Renato Russo. “Algumas canções foram se acumulando e era angustiante não poder apresentá-las ao vivo”, diz. Nessa nova fase, ele desacelera o ritmo das músicas, troca as guitarras pelo violão e imprime um clima intimista às melodias, assumindo a influência da MPB e do samba. “Foi um trabalho mais individual, fiz tudo como queria”, diz. Inclusive na hora de escolher parcerias, nada previsíveis, como a pianista Clara Sverner, o sanfoneiro Dominguinhos e a cantora Mallu Magalhães, na música Janta. Revelação de 16 anos, Mallu é alvo de admiração especial por parte de Camelo: a garota é também sua namorada.