O estudante Darlan Rodrigues abre um sorriso generoso quando discorre sobre suas perspectivas para o próximo ano letivo. Aos 15 anos, ele está prestes a passar para o ensino médio, etapa jamais superada por outro integrante de sua família. Seus pais, na verdade, não tiveram oportunidade de fazer nem a primeira série do ensino fundamental. Aluno de uma escola estadual de Belo Horizonte, há poucas semanas Darlan só não sabia como resolver o problema dos livros. “Estava tentando emprestar de outra pessoa”, diz. “Mas não é fácil.”

Órfão de pai, ele vive com a mãe, Iolanda, que trabalha como doméstica. Do  salário de R$ 350, ela destina a maior parte para o aluguel. “Não sobra nada para material didático”, contabiliza Darlan, sem fazer drama. Na quarta-feira 27, parcela significativa dos problemas do garoto foi resolvida. Em atitude inovadora, o governo de Minas Gerais lançou o programa Livro na Escola – Mais Fácil Ensinar, Mais Fácil Aprender, que vai distribuir 1,8 milhão de livros de português e matemática para os alunos do ensino médio da rede estadual. Com custo estimado em R$ 22 milhões apenas em 2005, o programa faz parte de uma série de ações governamentais para tentar melhorar o ensino público. “No passado, Minas foi referência em educação”, lembra o governador Aécio Neves (PSDB). “Precisamos recuperar esse ensino de qualidade.”

Nesse sentido, a rede estadual já protagoniza algumas práticas de vanguarda. Entre elas estão o ensino fundamental de nove anos – um a mais do que no  restante do País – e o projeto Escola Viva, Comunidade Ativa, destinado a escolas situadas nas chamadas áreas de risco. Criado em julho do ano passado, o Escola Viva atinge 159 estabelecimentos públicos e acaba de ser reforçado por uma parceria com a Unesco. Entusiasta da iniciativa mineira, o representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, comentou que a instituição fornecerá suporte técnico para as atividades de inclusão social das comunidades atendidas pelo programa.

Embora a distribuição de livros para os 900 mil alunos do curso médio da rede estadual seja coerente com as estratégias traçadas pelo Palácio da Liberdade para o ensino público, o investimento surgiu como reação a uma iniciativa do governo federal. Isso porque, ao contrário do ensino fundamental, que conta com financiamento da União, o curso médio depende exclusivamente dos cofres estaduais. Essa situação mudará em 2005, quando o governo federal distribuirá 2,7 milhões de livros para os alunos do primeiro ano do ensino médio.

A medida, no entanto, só atingirá as regiões Norte e Nordeste do Brasil, o que deixou Aécio Neves inconformado. “Isso é mais um reflexo de uma visão distorcida da realidade brasileira”, reclamou. “Minas tem uma região com 160 municípios com IDH menor que a média do Nordeste. São cerca de três milhões de habitantes do Vale do Jequitinhonha, do Mucuri e de parte do norte do Estado que precisam de apoio.” Impossibilitado de reverter a meta de Brasília, ele decidiu adotar o programa por conta própria. De quebra, ampliou, já que a versão mineira atinge todas as séries do ensino médio. Na prática, os estudantes e professores saíram ganhando.

Economia: em vez de gastar em média R$ 120 por ano em livros, os alunos do ensino médio da rede estadual mineira receberão obras escolhidas por seus professores. Em português, as opções envolvem nove títulos de sete editoras. Em matemática, são 11 títulos de oito editoras