Confira nos players abaixo as histórias de Jackeline de Oliveira e Neder Kahil

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Jackeline de Oliveira, secretária e pedagoga, foi mais uma vítima da tensão crônica e chegou a ganhar 10 quilos quando entrou na faculdade

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Menos estressado e 45 quilos mais magro. Assista ao depoimento de Neder Kahil que chegou a pesar 140 quilos e só conseguiu emagrecer após controlar o estresse

 

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Por mais de uma década pairou sobre o estresse a suspeita de influenciar diretamente o ganho de peso. Ela estava basea­da principalmente na observação cotidiana de especialistas como o endocrinologista paulista Alfredo Halpern, chefe do Serviço de Obesidade do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC/SP)e um dos mais experientes da área. “Sempre percebi que ele é um fator muito importante para a maioria dos pacientes que atendo”, diz. Mas não havia provas científicas disso. Agora há. Elas emergem de diversos estudos mundiais financiados por entidades como o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês), um dos mais importantes do planeta em matéria de pesquisas e desenvolvimento de políticas de prevenção de doenças. Só no ano passado, o NIH destinou US$ 37 milhões para as investigações sobre comportamentos associados ao aumento de peso com a finalidade de encontrar intervenções efetivas contra a epidemia de obesidade – um problema que atinge, atualmente, cerca de 400 milhões de pessoas no mundo. A estimativa é ainda mais preocupante se forem contabilizados os indivíduos com sobrepeso. “O número sobe para cerca de 1,5 bilhão”, diz o endocrinologista Walmir Coutinho, recém-eleito presidente da Associação Internacional para o Estudo da Obesidade (Iaso).

Nos trabalhos, o estresse tem surgido como um dos mais fortes responsáveis pela subida dos ponteiros da balança. Um exemplo é o estudo realizado por Diana Fernandez, da área de medicina preventiva da Universidade de Rochester, nos EUA. Ela observou 2.782 empregados de uma fábrica de Nova York e constatou que o estresse vivenciado em uma fase de demissões aumentou muito a procura por comidas ricas em gorduras e calorias – elas desapareciam rapidamente das máquinas onde eram vendidas. Mas as complicações causadas pelo estresse foram além. Os trabalhadores disseram não ter tempo para comer bem ou fazer atividade física na hora do almoço porque tinham medo de sair de suas mesas de trabalho por muito tempo. Cansados física e emocionalmente, à noite a maioria se dedicava a ver televisão. “Os que assistiram a quatro horas por dia ou mais tiveram 150% mais chances de se tornar obesos”, disse a especialista à ISTOÉ.

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O mesmo fenômeno foi verificado em outro experimento, desta vez feito com animais. O cientista Mark Wilson, da Universidade Emory (EUA), queria também saber se viver em ambiente estressante levava ao consumo de comidas ricas em calorias. Para isso, ele observou o comportamento alimentar de fêmeas do macaco rhesus. Entre esses animais, algumas dominam as outras. As que são submetidas geralmente acabam vítimas de agressão constante, o que as deixa em situação de estresse crônico. Após o experimento, Wilson constatou que a tensão fez com que os animais engordassem. “As fêmeas subordinadas comeram maiores quantidades e várias vezes por dia. Também preferiram os alimentos mais calóricos. Por isso, ganharam peso em ritmo acelerado”, disse Wilson à ISTOÉ.

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Por causa de achados como esses, muitos especialistas começam a defender mudanças nos relacionamentos pessoais e profissionais – visando à diminuição do estresse – também com o objetivo de conter o avanço da obesidade. “Os resultados devem ser levados em conta na formulação de estratégias contra o problema”, diz Carol Shively, da Wake Forest Baptist Medical Center. Uma das propostas é que os programas de bem-estar no trabalho examinem a estrutura organizacional e forneçam meios práticos para minimizar o estresse. Além disso, é necessário dar condições para romper o sedentarismo. Uma delas, praticada por poucas empresas no Brasil, é ter uma área equipada para as pessoas se exercitarem antes, durante ou depois do expediente.

Comprovada a conexão estresse-obe­sidade, a pergunta que surge é: por quais mecanismos ele resulta em ganho de peso? À luz das recentes descobertas, é possível depreender que ele modifica as respostas do corpo à comida de uma forma extremamente intensa. “Está ficando claro que o estresse crônico altera as respostas do organismo e leva à obesidade”, afirma a endocrinologista Maria Fernanda Barca, do Grupo de Tireoide do Hospital das Clínicas de São Paulo.

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Os estudos estão mostrando que as transformações impostas pelo estresse e que resultarão nos quilos a mais ocorrem em diversas frentes. A mais importante, com repercussões bastante amplas, está relacionada aos níveis de cortisol. O hormônio está associado ao estado de prontidão do organismo. Seus níveis sobem algumas horas antes de acordarmos por ordem do hipotálamo, uma estrutura localizada na base do cérebro que recebe informações do corpo e regula as nossas reações. Ele instrui, por exemplo, as glândulas suprarrenais a liberar o cortisol para que, nesse momento, ele atue como uma espécie de despertador.

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De ação prolongada, sua quantidade no sangue cai gradativamente ao longo do dia, chegando a taxas mínimas no final da tarde, numa preparação para o relaxamento da noite. Ou pelo menos deveria ser assim. “Condições como a insônia, a depressão e o estresse crônico mantêm o cortisol alto o dia todo, induzindo o corpo ao alerta constante”, diz a psicóloga Ana Maria Rossi, de Porto Alegre, presidente da Isma-br, entidade internacional voltada para o estudo do gerenciamento do estresse. Um dos resultados dessa exposição sem descanso é que indivíduos em estresse prolongado produzem duas a três vezes mais cortisol do que o normal.

No que se refere aos mecanismos de controle ou ganho de peso, isso é um desastre. O cortisol excessivo representa um sinal de perigo que o corpo traduz como uma ordem para poupar energia diante de uma iminente situação de emergência. Para que a operação seja executada, desencadeia-se uma série de fenômenos. Um deles foi revelado por cientistas do Garvan Institute of Medical Research, da Austrália. Em trabalho com cobaias, eles constataram que, sob estresse crônico, o corpo libera a molécula Y (também chamada de neuropeptídeo NPY). Ela desbloqueia alguns receptores – uma espécie de fechadura química – das células de gordura. O que acontece depois? Como se tivessem recebido uma dose de fermento, as células crescem em tamanho e número.

PARTE 2