De setembro a fevereiro, o município de Canindé, localizado no sertão do Ceará, é palco da maior romaria franciscana das Américas: 2,5 milhões de pessoas, segundo a Secretaria Municipal de Turismo, visitam a cidade nesse período para homenagear São Francisco de Assis, o padroeiro do lugar. Só entre os dias 4 de outubro, dia do santo, e 14, quando se encerraram as principais celebrações, calcula-se que tenham passado por lá 300 mil pessoas. Os eventos seguem até 3 de fevereiro, Dia do Romeiro.

Em Canindé, a quantidade de moradores e visitantes batizados com o nome de Francisco e Francisca dá a dimensão da fé no santo que abdicou da riqueza para proteger os pobres e os animais. Na verdade, a romaria em Canindé  data de 1775, com a chegada de frades franciscanos à cidade. Nessa época, fiéis já iam agradecer a São Francisco as graças alcançadas. Outra história colaborou para aumentar a crença nos poderes do santo. Conta a tradição local que um operário, ao trabalhar na construção da primeira capela do lugar, desprendeu-se de um andaime e na queda teria implorado a ajuda de São Francisco. Como um milagre, o homem teria sido suspenso pela camisa, presa na ponta de uma tábua, e salvo pelos outros operários.

A maioria dos romeiros vai a Canindé de pau-de-arara ou em ônibus clandestinos. Por conta da situação irregular, a Polícia Rodoviária Federal proíbe o acesso de diversos veículos, o que deixa de fora muita gente. “As autoridades não levam em conta a pobreza do povo. Será que eles acham que só vem gente rica pra cá?’’, questiona frei João Sannig, vigário da cidade. E, para piorar a situação, a BR-020, a principal via de acesso ao município, está em péssimas condições.

Assim que chegam, os devotos protagonizam várias manifestações de fé. Ao lado da basílica, fiéis costumam cortar os cabelos num ato de agradecimento ou vestir roupas iguais aos hábitos franciscanos. Gente como a dona-de-casa cearense Antônia Gomes. Ela não sabe explicar a doença que atingiu seus filhos, mas crê que a ajuda do santo foi fundamental para a recuperação das crianças. ‘‘Graças a Deus e a São Francisco meus filhos foram salvos. Um deles passou 20 dias em coma’’, contou, emocionada.