Estrela-guia de gerações futuras de poetas e síntese daqueles que o precederam, o curitibano Paulo Leminski selecionou e ordenou os 40 textos de Gozo fabuloso (DBA, 184 págs.,R$ 29) pouco antes de morrer, em 1989. Na abertura da edição, que só agora chega ao público, ele explica o título: “Só pode ser o delírio combinatório de extrair do restrito infinito dos entrechos possíveis uma história sem par, delícia só comparável à de cantar uma canção bonita.” De fato, o segredo da qualidade/durabilidade da seleção reside na musicalidade de sua prosa. Ou, como diz a poeta Alice Ruiz, companheira do autor e autora do prefácio, trata-se de contos e crônicas “com muito amanhã”.

Os estudiosos podem até encontrar em meio às histórias ecos de Joseph Conrad (Wanka), Jorge Luis Borges (Distâncias, O segundo futuro), Nelson Rodrigues (Solange tudo bem e seus eletrodomésticos), Dorothy Parker (Meu caso inexplicável e Love is a many splendored thing) e até mesmo Luis Fernando Verissimo (Osíris). Mas o que os torna encorpados e verossímeis é a lógica lírica do poeta, indisfarçável em Me escondendo e outros brinquedos, Contagem regressiva, no auto-explicativo. O resto imortal e no labiríntico Entre quatro parênteses, dedicado às filhas, Áurea e Estrela. Como reza a filosofia leminskiana, “quem canta tem que cantar. Quem conta tem que contar”.