Toda a obra da irlandesa Marian Keyes é sublinhada pela moderna sujeição feminina à estética, ao consumismo, à busca de status profissional e felicidade amorosa. Seu novo livro, Sushi (Bertrand, 574 págs., R$ 55), segue a mesma linha dos best sellers Melancia e Férias! Isso equivale a dizer que traz o estilo morde-assopra da autora. Keyes faz uma espécie de continuação da história de Cinderela, após a carruagem virar abóbora, o vestido perder a grife e o príncipe ir para o brejo. Três mulheres diferentes se alternam na trama. Clodagh é casada com um homem lindo, tem dois
filhos fofos e considera a vida um tédio implacável. Ashling é solteira e sofre por não ter cintura. Lisa é uma jornalista conhecida como “uma boa peçonha”.

As três passam por sérios problemas, como traição e injustiça – mas nada que um bom par de óculos Gucci, ou uma bela bolsa Prada, ou a depilação em dia não dê jeito. Enquanto os fatos se desenvolvem, as princesas pós-modernas falam o que é estar calçando frágeis sandálias de gorgorão exatamente no dia em que aquele homem especial as convida para um passeio pelo cais do porto. Lisa, a figura central deste dilema, conclui que “alguns sapatos existem mesmo apenas para viver um esplendoroso e efêmero apogeu de beleza” e se entrega ao destino. Como se vê, embora não seja um momento memorável da literatura, Sushi é um bom retrato da ansiedade feminina no mundo de hoje.