Descruzar os braços e doar tempo e trabalho a terceiros pode ser mais do que uma atitude pessoal. Depois da proliferação de ONGs e grupos de solidariedade, o Brasil vive o boom do voluntariado corporativo – quando empresas apóiam seus funcionários em trabalhos que beneficiam causas sociais. A constatação é do americano Kenn Allen, um dos líderes do Civil Society Consulting Group, que presta consultoria para empresas e governos de vários países, inclusive o Brasil. Os números do último censo realizado pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife) entre seus 61 associados confirmam. De 2001 para cá, o repasse de recursos privados da rede Gife para a área social cresceu 36%. “Os resultados da última década mostram que a prática da responsabilidade social corporativa não é um modismo, como muitos temiam, constituindo-se hoje uma forma eficaz de gerir uma empresa de qualquer porte ou tamanho”, diz o relatório final do Gife. Muitos associados iniciaram atuação no campo social entre 1991 e 2000, “motivados pelo processo de redemocratização do País”. A conclusão coincide com a explicação de Allen para o fenômeno: “Este tipo de ação cresce muito em países mais democráticos. É parte do processo. Uma democracia forte tem uma sociedade civil forte”, disse a ISTOÉ.

Trata-se de um sistema de realimentação: os funcionários escolhem o projeto que irão fazer e a empresa oferece treinamento, logística e, às vezes, recursos econômicos. “No ambiente interno, isso se reflete na capacidade de trabalhar em equipe, lidar com adversidades, respeitar as diferenças e saber ouvir”, explica Olinta Cardoso Costa, diretora superintendente da Fundação Vale do Rio Doce, que levou Allen para fazer palestra no primeiro encontro de voluntários da empresa, em outubro, no Rio de Janeiro.

A Petrobras é um bom exemplo desse boom. Há pouco mais de um ano, a empresa implantou o Programa Voluntariado Corporativo, que começou com 300 empregados voluntários e hoje contabiliza 1.400, distribuídos em 66 núcleos. A ouvidora geral e coordenadora do programa, Maria Augusta Carneiro Ribeiro, explica que a proposta da empresa é de alinhamento ao Programa Fome Zero do governo federal, ou seja, de estímulo à inserção social e não à filantropia. O pequeno espaço de tempo já foi suficiente para a aprovação de 32 projetos – a um custo médio anual de R$ 1,4 milhão – que atendem 34 mil pessoas. “No município fluminense de Macaé, a Apae é praticamente mantida pelos petroleiros”, orgulha-se Maria Augusta.

Em Minas Gerais, o Instituto Algar de Responsabilidade Social – um braço da empresa Algar, que atua em áreas de telecomunicações e serviços, com sede em Uberlândia – tem como foco central a educação. Os projetos em andamento, do qual participam 426 voluntários, beneficiam 36 mil alunos, 1.500 professores e 100 técnicos por ano. A coordenadora executiva, Eliane Garcia Melgaço, comemora: “Nosso papel é disseminar a responsabilidade social na corporação e fora dela.” A educação também é o investimento de uma aliança de nove bancos, entre eles Citibank, Santander, BankBoston, Banespa e Banco do Brasil, em São Paulo. Eles criaram o programa Banco na Escola para ajudar seus funcionários em ações ligadas à gestão financeira. O projeto começou em 2000 com 51 escolas públicas municipais e hoje já atua em mais de 500. “O mais interessante nessa aliança é ver grupos concorrentes no mercado financeiro se unindo numa ação integrada de interesse coletivo. Isso é muito bacana”, diz Cenise Monte Vicente, a coordenadora-geral.

O Instituto Treinar, com sede em Florianópolis (SC), realiza projetos com assistência de importantes entidades internacionais. Como o Instituto Negócios  da Juventude do Brasil, baseado em voluntariado empresarial para jovens “em desvantagem social e econômica” que desejam montar seus pequenos negócios. Tem orientação do Youth Business International e do The Prince of Wales International Business Forum. A idéia é formar uma Rede Latino-Americana de Mentores Empresariais, segundo André Videira, diretor do Instituto. Em que, não há dúvida, o Brasil terá importante participação.