Ciência & Tecnologia

O som mais fino do mundo
Pesquisadores se valem da nanotecnologia para criar caixas de som com a espessura de uma folha de papel sulfite

Tatiana de Mello 

 

Parece uma simples folha de papel sulfite, só que transparente. Quando olhada ao microscópio, no entanto, revela-se nela um intricado mundo de tecnologia minúscula através de um emaranhado de nanotubos de carbono superalinhados e com uma surpreendente função: fazer a vez de alto-falantes. Essa tecnologia foi apresentada na semana passada por pesquisadores da Tsinghua University, em Pequim, e, segundo eles, já está pronta para ser vendida às indústrias. Os cientistas já sabiam que os nanotubos de carbono eram resistentes e bons condutores de calor e de eletricidade, mas só descobriram agora que também são capazes de produzir som. “Percebemos que aquela folha fina tinha a capacidade de duplicar o volume do som que aplicamos com uma corrente de audiofreqüência”, disse com exclusividade à ISTOÉ Jiang Kaili, um dos responsáveis pela pesquisa. Ao contrário dos equipamentos convencionais, que propagam o som por vibrações, a nanotecnologia consegue aumentar a freqüência sonora através de mudanças na temperatura. Para se entender tal funcionamento é preciso esquecer o modelo tradicional que utiliza campos magnéticos para captar e reproduzir vibrações, mesmo porque no novo alto-falante elas inexistem. Como funciona? Uma corrente elétrica passa pelo material, esquentando-o (a temperatura chega a 80oC) e a mudança de temperatura faz com que a pressão ao redor também oscile. É essa oscilação na pressão que leva o som a se propagar.
“Efeito semelhante havia sido verificado em uma invenção do final do século XIX chamada termofone”, diz o físico Hélio Chacham, subcoordenador da Rede Nacional de Pesquisa Nanotubos de Carbono. O antigo termofone propagava o som através de folhas de metal, mas o som era praticamente inaudível. “Com esse novo material o efeito é muito mais forte”, diz Chacham. A expectativa é que já em 2009 os protótipos sejam enviados às indústrias. “Serão bem mais baratos do que os convencionais”, diz Kaili. Um dos motivos é que o seu processo de fabricação é muito simples: basta sintetizar a rede de nanotubos e nela colocar dois eletrodos. Por ser transparente, fino e flexível, o aparelho pode ser adaptado a diversas situações. “Suas possibilidades se desenvolverão cada vez mais com o tempo”, diz Kaili.

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