O tato é o primeiro dos sentidos a ser experimentado. O recém-nascido vem ao  mundo pelas mãos de médicos, enfermeiras ou parteiras e, nos braços dos pais, conhece a segurança e o lar. Uma das formas de eternizar a cumplicidade entre pais e filho é a shantala, técnica de massagem indiana introduzida no Ocidente na década de 1970. Desde então, vários estudos têm provado que o toque influencia o desenvolvimento físico e comportamental do ser humano, além de propiciar relaxamento e bem-estar. Por isso, profissionais da saúde defendem cada vez mais esse tipo de massagem.

Uma pesquisa israelense, divulgada em setembro no Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, uma publicação científica de respeito, mostrou que certas disfunções alimentares infantis – como vômitos violentos – podem ser provocadas pela ausência de toque. Foi o que se pôde concluir após 20 crianças de nove a 34 meses com problemas gástricos e outras 27 com dificuldade para dormir terem seus relacionamentos com as mães comparados aos de outras 47 que não apresentavam esses problemas. O pediatra Leonardo Posternak,
do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, afirma que a criança usa  o corpo para manifestar sua carência afetiva, apresentando sequelas. “Sou a  favor de toda massagem entre mãe e filho e recomendo que ela seja feita pele  a pele e no colo”, diz.

A onda de redescoberta do toque é visível também na indústria. As empresas Neal’s Yard, Procter & Gamble e Natura têm investido em óleos e cremes para bebês, segmento que cresceu mais de 20% no último ano. A Natura, aliás, acaba de relançar a linha Mamãe e Bebê, composta de nove itens, entre eles um específico para massagem composto com óleo de passiflora, que evita o ressecamento da pele da criança. A série vem acompanhada do Guia de Boas-vindas, manual focado em cinco pontos (amamentação, olhar, olfato, audição e toque) que ensina a praticar a shantala e ressalta a figura do pai.

A técnica indiana pode ser aplicada a partir do segundo mês de vida. Em um ambiente aquecido, a mãe coloca a criança nua próxima de seu corpo e, falando calmamente, toca o filho da cabeça aos pés, com movimentos do centro para as extremidades. Há dois meses, Amanda Pelegrino, 26 anos, faz shantala com a filha Marina, cinco meses. “Não vejo a hora de terminar as tarefas de casa para fazer a massagem”, conta. Maria das Graças da Silva, professora de enfermagem da Universidade Federal de São Paulo, dá cursos gratuitos de shantala no Centro de Assistência e Ensino de Enfermagem e garante que a técnica traz benefícios mútuos. “Fortalece o vínculo maternal e deixa a mãe satisfeita e tranquila por estar se dedicando ao filho”, diz. Recentemente, a carioca Samantha Müller, 29 anos, teve de reduzir a frequência das sessões de shantala com o filho Felipe. “Ele está com nove meses e não pára quieto. Hoje só consigo fazer de vez em quando”, diz. Grávida novamente, Samantha pretende agora praticar o toque pré-natal, técnica de massagem realizada na barriga da gestante. Afinal, a união entre pais e filho pode começar antes mesmo do nascimento.