O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, carregava consigo um apelido nada abonador  para um político que dirige o Estado mais  populoso e dono do maior PIB do País. Mas os tempos de picolé de chuchu, diga-se de passagem uma improvável e insossa combinação, parecem ter ficado definitivamente para trás após a apuração do último voto na capital paulista. A eleição de José Serra, que teve Alckmin como o mais ferrenho e fiel cabo eleitoral, alçou de vez o governador à condição de tucano de cinco costados. Além disso, o fez disparar na corrida para ser o homem do PSDB na batalha para desalojar Luiz Inácio Lula da Silva do Palácio do Planalto, em 2006. O triunfo tucano em São Paulo, ainda mais sobre o adversário número um, o PT de Lula e Marta Suplicy, fez com que lideranças do PSDB até relevassem alguns pontos negativos na figura do político que iniciou sua carreira aos 20 anos na pequena Pindamonhangaba, interior de São Paulo. Não é para menos. Astros da legenda, como o governador mineiro Aécio Neves e o senador cearense Tasso Jereissati, concorrentes diretos ao posto, viram seus respectivos candidatos em Belo Horizonte e Fortaleza naufragarem. No caso de Aécio, a derrota em Contagem, populosa cidade da Grande Belo Horizonte, foi mais uma ducha fria nas pretensões do galã das Gerais. O triunfo de Alckmin só não foi total graças a Osasco. O petista Emídio de Souza levou a melhor contra o prefeito e candidato à reeleição Celso Giglio. A derrota foi emblemática. O município era o maior colégio eleitoral administrado pelo PSDB em todo o País. E nem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que gravou depoimento em favor de Giglio, salvou o partido do fracasso.

A derrota em Osasco, porém, não chegou a arranhar o prestígio de Alckmin. Ele é o que pode ser chamado de o político certo no lugar certo. Ganhou projeção em 1994, quando Mário Covas, candidato ao governo de São Paulo, o convidou para ser vice da chapa que venceu aquelas eleições. A indicação foi uma espécie de prêmio por sua atuação na Câmara dos Deputados. O então parlamentar foi o pai do projeto da Lei da Defesa do Consumidor. Durante os primeiros anos da gestão Covas, foi um vice-governador discreto e leal, premissa básica para quem sonha com vôos mais altos. Com as bênçãos e o empurrão do padrinho e cúmplice de arquibancada de estádios de futebol – ambos são fanáticos torcedores do Santos –, em 2000 Alckmin concorreu à prefeitura paulistana. Amargou um terceiro lugar, atrás de Paulo Maluf e da agora derrotada Marta Suplicy. Tempos depois, perdia o amigo e maior cabo eleitoral. Em compensação, ganhou a oportunidade de provar que não era uma simples sombra do político morto. Mas nem a vitória para o governo do Estado, em 2002, foi suficiente para que sua imagem descolasse da do padrinho. Seus desafetos ainda o acusam de ser um mero executor das obras e projetos de Covas. O líder do PSDB no Senado e uma das principais vozes tucanas, o amazonense Arthur Virgílio, ignora o ranço adversário e enche o governador paulista de elogios. “Eu gosto muito dele. O Geraldo governa o maior colégio eleitoral do País. Teve maciça aprovação nas pesquisas e elegeu seu sucessor. É sem dúvida um nome muito forte para 2006”, diz Virgílio.

Obstáculos – O senador também se apressa em desmentir os boatos de que uma eventual indicação de Alckmin seja um mero despiste para encobrir o novo/velho candidato do partido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “O presidente só retornaria em um quadro de caos político. Nós, sinceramente, esperamos que isso não aconteça.” Caso Virgílio não esteja blefando, mais um ponto para Alckmin. Mas a caminhada não deve ser tão suave quanto se anuncia. Fora a concorrência interna e a eminência FHC, o governador sabe que sua popularidade pouco ultrapassa os limites do Estado que dirige. Outro obstáculo, menor talvez, será o de trazer o PFL para o ninho tucano. Entretanto, o maior teste será o embate com a tropa de choque petista. Ressentidos com a derrota em São Paulo, os adversários prometem uma verdadeira devassa em sua administração, com especial ênfase no Rodoanel, gigantesca obra rodoviária que circunda a capital, e nas denúncias envolvendo a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), uma velha dor de cabeça do PSDB. O presidente nacional do PT, José Genoino, nega que o partido vá centrar fogo na estrela em ascensão. “Ainda não estamos preocupados com 2006. Nossa intenção é fazer uma oposição consciente, cobrando e fiscalizando as ações do Estado.” Muitos duvidam que a situação irá se encaminhar dessa maneira. Discreto e bom caipira que é, Alckmin desconversa quando o assunto é a eleição presidencial. Tem afirmado que o candidato natural do partido é FHC. Mas sai da eleição municipal com uma certeza: o picolé de chuchu passou a ser um virado à paulista bem condimentado. Resta saber se o prato vai descer bem.