Depois de quatro anos dedicando-se exclusivamente à crônica, o escritor, saxofonista e chargista Luis Fernando Verissimo retorna à ficção com O opositor (Objetiva, 140 págs., R$ 25,90), quarto livro da coleção Cinco dedos de prosa, composta por narrativas ensejadas pelos dedos da mão. Fernanda Young ficou com o médio, Carlos Heitor Cony com o indicador, Mário Prata com o mindinho e em breve Moacyr Scliar entregará seu texto sobre o anular. Para falar do “dedão”, Verissimo misturou a hipótese do escritor Hendrik Van Loon, segundo a qual a evolução do homem está ligada à oposição entre o polegar e os outros dedos, com a idéia do filósofo Vilém Flusser, para quem o progresso não passa da exacerbação dos sete pecados capitais. Com tais pressupostos, imaginou um poderoso e obscuro grupo chamado Meierhoff, cujos seguidores amputam os polegares para renegar o progresso humano.

A história chega ao leitor através das confissões do bêbado Polaco, contadas ao jornalista-narrador em um bar qualquer de Manaus. Em seu delírio, o homem se transforma em Joséf Teodor, ex-colaborador do grupo Meierhoff, também conhecido como “o míssil”, conhecedor de 21 formas de eliminar um homem usando apenas as mãos. Todas as tardes, assim que se levanta da cama de Serena, uma mestiça no sentido literal – numa metade ela é uma dinamarquesa loira com mechas negras e na outra, uma índia com estrias loiras nos cabelos pretos –, o jornalista vai ouvir Polaco enquanto bebe os sucos oferecidos por Hatoum, o dono do tal bar. “Caju para começar”, “seriguela para perplexidades”, “bacuri que cura tudo menos praga de vesgo e loucura”. Um por dia, um por capítulo. Bebe todos, menos o último, “sapiri para hipnotizar, esquecer tudo”. Pois ele quer se lembrar. Sem apelar para o deboche ou a paródia, Verissimo vai destruindo com elegância thrillers best-seller como Código Da Vinci e similares. O único riso que provoca é o de satisfação diante de uma boa leitura.