Comportamento

Família (milionária) vende tudo
Leilão de Yves Saint Laurent chama atenção para hábito entre os muito ricos de se desfazer de seus acervos

João Loes

 

i78549.jpgUma tela de Picasso e outra de Mondrian: US$ 49 milhões. Duas esculturas gregas de quase dois mil anos: US$ 517 mil. Conjunto de móveis art déco: US$ 11 milhões. Essas são apenas algumas das preciosidades entre os mais de 700 lotes que compõem a coleção particular do estilista francês Yves Saint Laurent, morto em junho, e de seu companheiro, Pierre Bergé, que será leiloada de 23 a 25 de fevereiro de 2009 em Paris. Reunido, o acervo avaliado em US$ 514 milhões (R$ 1,2 bilhão) pela casa de leilões Christie’s é tão grande que não caberá no endereço oficial da empresa e terá de ser acomodado no museu Grand Palais, também na capital francesa. No final do dia 23 as portas se fecham para os curiosos e se abrem para compradores dispostos a dar lances que devem variar entre US$ 258 mil e US$ 38,8 milhões.

Independentemente das cifras envolvidas – segundo a Christie’s, um marco "sem precedentes" nos 232 anos de história da empresa -, o leilão de Saint Laurent serve como exemplo de uma prática comum na Europa e nos Estados Unidos e que começa a chegar ao Brasil. Trata-se do pregão de acervo completo, uma espécie de "Família Vende Tudo"s de pessoas muito ricas. "Geralmente quem faz esses leilões quer se desfazer dos acervos porque eles ocupam muito espaço e têm manutenção cara" diz José Márcio Molfi, da Milu Molfi Leilões. No caso de Saint Laurent, as vendas serão de todas as obras de arte que ele possuía e a renda revertida para uma fundação de combate à Aids. O filão dos leilões de acervo completo teve outros marcos internacionais, como a grande venda do casal americano Victor e Sally Ganz, que arrecadou US$ 206,5 milhões, e o pregão dos barões austríacos Nathaniel e Albert von Rothschild, que captou US$ 88,2 milhões. Experiências como essas vêm ganhando espaço no País. "Este ano quase todos os nossos leilões foram de coleções completas", diz Soraia Cals, do Escritório de Arte, no Rio de Janeiro.

i78550.jpgUm exemplo recente é o leilão dos bens do escritor Jorge Amado, finalizado no dia 21 de novembro. "Fazemos um levantamento detalhado das obras e preparamos catálogos", diz Soraia, que organizou a Coleção Jorge Amado, com obras de H. Carybé, M. Mabe e Di Cavalcanti. Outros clientes ilustres da leiloeira são Lily Marinho, que vendeu móveis e quadros no Brasil, mas preferiu se desfazer de sua incrível coleção de jóias na Sotheby’s de Genebra, e Linneo Eduardo de Paula Machado, herdeiro de uma tradicional família carioca. Todos ganharam catálogos exclusivos – um diferencial tão importante quanto um bom leiloeiro. Além de ajudar na divulgação, o requinte desses livros dá uma prévia do glamour dos eventos, realizados em suntuosos salões e regados a espumante e outros mimos.

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Quando se fala nos rendimentos dos leilões, é fácil esquecer que os objetos vendidos muitas vezes contam histórias de gerações de uma mesma família. "É doído se desvincular", diz Paloma Amado, filha do escritor. Mas saber que peças que antes só juntavam poeira serão expostas diminui o incômodo. "Fizemos a coisa certa", afirma. Convicto do que queria fazer, mas ainda amargurado com a morte do parceiro, Pierre Bergé declarou que não havia sentido manter o acervo. "Espero que os compradores amem essas obras tanto quanto Yves as amava", resignou-se.

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