Brasil

Tucanos em campanha
A exemplo de Serra, Aécio Neves desembarca em vários Estados de olho em 2010

Rudolfo Lago

 

 

i78583.jpgCom a sucessão do presidente Lula anotada em lugar de destaque na agenda, os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) estão com seus blocos na rua. Em público, os dois tucanos trocam afagos; nos bastidores, cada um trata de buscar maior apoio político dentro e fora do PSDB. Ambos têm corrido o País para angariar aliados. Aécio usa o "choque de gestão", programa implantado em Minas há quatro anos para estimular o funcionalismo, como pretexto para viajar pelos Estados. Serra se vale da idéia da redistribuição tributária: formaliza convênios pelos quais ele recolhe em São Paulo o ICMS de produtos e depois os repassa para os Estados para os quais esses produtos serão destinados. Como as palestras de Aécio, cada assinatura de convênio transforma- se num pequeno ato político.

Serra já comeu pastel de feira em Londrina, no Paraná, e passeou pela orla de Maceió, em Alagoas, apertando as mãos de eleitores. Na segundafeira 1º, Aécio desembarca em São José dos Pinhais, cidade próxima a Curitiba, onde fará palestra para líderes políticos. No dia seguinte estará no Recife (PE) para uma reunião da Sudene. Nesses eventos, a estratégia do mineiro é mostrar às lideranças tucanas que em torno do seu nome o PSDB pode chegar em 2010 com uma aliança partidária mais ampla do que a de Serra. "As duas últimas disputas nacionais mostraram que não basta a parceria com o DEM para ganhar a eleição. É preciso ampliar", tem dito o governador mineiro a seus interlocutores.

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O "choque administrativo" já levou Aécio a dez Estados. Em São Paulo, Serra adotou programa semelhante, mas apenas este ano. Em suas palestras, o mineiro não deixa de provocar e diz que "está três anos à frente do paulista". A participação de Aécio no evento do Recife é articulada pelo governador pernambucano, Eduardo Campos, do PSB, partido do prefeito eleito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, afilhado político de Aécio. Trata-se de uma aliança que o mineiro espera repetir em 2010 e nessa direção parece levar vantagem sobre Serra. Ciro Gomes, o pré-candidato do PSB à sucessão de Lula, já declarou que contra Aécio ele não disputa a eleição. "Pode ser verdade que não se possa repetir em nível nacional o que aconteceu em Belo Horizonte, mas o que aconteceu lá precisa valer como exemplo de que um novo entendimento político, mais amplo, pode ser obtido", entende o primeiro vicepresidente da Câmara dos Deputados, Nárcio Rodrigues (PSDB-MG), um dos principais aliados de Aécio.

i78585.jpgEnquanto correm o Brasil propagando suas idéias, Serra e Aécio movem-se de forma semelhante em seus Estados. Ambos anunciam ambiciosos projetos de investimentos e criaram "PACs locais" que pretendem apresentar como cartões-postais de suas gestões. Mas o mineiro tem procurado evitar o corpo a corpo com os eleitores. Aécio entende que não é o momento de oficializar sua candidatura, pois as pesquisas o mostram bem abaixo de Serra e ele quer tempo para reverter essa situação. Nisso, enfrenta a pressão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que prega que o PSDB antecipe a escolha de seu candidato e encare logo a disputa. "É um equívoco precipitarmos nomes sem ter clareza do projeto, da idéia que vai sustentar essa candidatura, não apenas do PSDB, mas de uma coligação que eu espero seja mais ampla", diz Aécio. Serra também não pretende pressionar por uma decisão breve.

Acredita que a precipitação possa provocar fissuras irreparáveis.

Serra e Aécio também têm posturas semelhantes em relação ao governo Lula. Ambos procuram se apresentar como sucessores qualificados e não como opositores. E nesse sentido os dois trombam com FHC. Em recente reunião com prefeitos e vereadores eleitos pelo PSDB, o ex-presidente teceu fortes críticas à forma como Lula vem tratando da crise econômica: "Não diga bobagem, presidente", afirmou FHC. Serra discordou. "O presidente Lula está preocupado com a crise e temos até feito boas parcerias para enfrentá-la", afirmou o governador.

As convergências entre Serra e Aécio, no entanto, não significam unidade e a cúpula tucana teme que a disposição dos dois para a disputa interna leve à derrota em 2010. "Precisamos agir com maturidade e desprendimento. Chega de perder", alerta o senador Sérgio Guerra (PE), presidente do PSDB.

 

 


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