O amor nos tempos do celular pode acontecer mais facilmente do que se imagina. Se você ainda não encontrou o seu, que tal arriscar o coração numa chamada telefônica? Hoje, as operadoras de telefonia móvel oferecem meios de os usuários localizarem alguém interessante do outro lado da linha. Em alguns casos, basta se cadastrar num serviço e fornecer os dados básicos para a paquera, como idade e características físicas. Outras vezes, isso não é necessário. Tenta-se a sorte ligando para um número específico (cada operadora tem o seu) e conversando com quem estiver disponível ali, na hora.

Recursos como esses estão à mão no Brasil. Mas na Ásia, na Europa e nos EUA, chegará até o primeiro semestre de 2005 um serviço para animar desde os não-favorecidos pelo cupido até os interessados apenas em diversão. Em dezembro, a empresa americana Artificial Life lança a Namorada Virtual, um jogo estrelado por uma garota de traços orientais que poderá ser vista em celulares de terceira geração (3G), uma espécie de banda larga do setor. Esses aparelhos são dotados de tecnologia compatível com o programa da companhia, que tem vídeo e áudio. Quem comprar o serviço poderá enviar flores e mimos para a musa, conquistando sorrisos e pontos. Já quem for distraído e não der atenção para a mocinha poderá se preparar para encontrar a amada de cara fechada e de segredinhos com as amigas. A Namorada Virtual é como se fosse um Tamagotchi do amor. A questão é saber se esse programa vai pegar. A empresa diz que sim. “Esses jogos serão mais realísticos. A cada dia haverá algo novo acontecendo”, declarou a ISTOÉ o principal executivo da companhia, Eberhard Schoneburg. O serviço será oferecido ao custo médio de US$ 5 por mês.

O fato de essa tecnologia fazer mais sucesso na Ásia explica o estilo da primeira versão da garota. Haverá outras, mas os traços não foram revelados. “O usuário poderá escolher uma entre várias namoradas. Elas têm diferentes idades, nomes e profissões. A atual é uma designer gráfica”, revelou Schoneburg. Ou seja, dá para achar a que mais se encaixa no gosto do cliente. E isso sem levar um “não” na cara. Já que é tão fácil assim, onde isso vai parar? “Se o usuário for bom para a garota, o casamento talvez seja uma opção do game”, brincou. Na verdade, o dono do celular não ganha nada. Apenas gasta dinheiro com os presentes (comprados virtualmente). Sendo bom, ele vai para uma lista de namorados perfeitos. O que pode ser útil se as mulheres reais se interessarem em saber quem são eles. Se.

Por aqui, o romance virtual pelo telefone vive seu melhor momento. As operadoras que criaram serviços voltados para a paquera comemoram. A TIM, por exemplo, informa que o crescimento no tráfego de mensagens curtas de texto (SMS) foi de 500% de 2002 para 2003. Boa parte desse resultado se deve ao namoro. O SMS é usado para o torpedo e para o chat. Na TIM, esse serviço se chama Blah! e permite bate-papo entre clientes daqui e dos países onde a operadora está presente, como Argentina e Peru. A Claro também conta com chat, o Amizade. Um sistema “joga” o usuário para salas onde cabem até dez pessoas. Se pintar um clima, os interessados procuram um espaço reservado e trocam os telefones. Dentre os serviços da Claro, um dos que chamam atenção é o Ego, um game em que o objetivo não é o relacionamento, mas que vem sendo usado para a paquera. A pessoa se transforma num personagem. Escolhe uma carreira e responde a perguntas para ver se tem jeito para o trabalho. Se acertar, vira profissional, trabalha e junta dinheiro. E pode ir para a balada, conhecer alguém e namorar. A média de mensagens trocadas é cinco milhões num mês. “Foi surpreendente. Calculávamos que seria um milhão”, afirma Marco Quatorze, um dos gerentes da Claro.

Na Oi, o principal serviço de paquera é o Pegação. O usuário tecla um número para enviar seu perfil. Quem se atrair pelas características responde com uma mensagem. De acordo com a empresa, o uso dos programas de paquera cresceu 380% entre 2003 e este ano. “Foi preciso aumentar a capacidade dos serviços”, comenta Alberto Blanco, diretor do grupo Telemar, ao qual pertence a Oi.

É de se perguntar se acontecem casamentos reais por conta desses serviços. A ex-secretária Sônia Correa, 40 anos, de São José dos Campos (SP), responde: “Não se deve perder a esperança.” Há um ano, ela entrou no serviço Cupido, da Vivo. Em fevereiro deste ano, “encontrou” o engenheiro Robinson Stanisce, 46 anos. Trocaram mensagens. Apaixonaram-se. Em abril, estavam casados. Segundo André Mafra, um dos dirigentes da operadora, programas como esses atendem pessoas que buscam relacionamentos mais sérios e as que estão a fim de uma mera paquera. “A vantagem de namorar pelo celular é a mobilidade. Você pode estar no restaurante e achar alguém. É um instrumento que cabe no bolso”, conclui.