Brasil

A ordem é gastar
Em reunião com o Ministério, Lula apresenta números positivos e exige investimentos

Octávio Costa

 i78610.jpg

 

A ordem do presidente Lula é não travar a roda da economia brasileira. Foi essa orientação que ele transmitiu a 36 de seus 37 ministros, na terceira reunião ministerial do ano, na segunda- feira 24, na Granja do Torto. Ele explicou que o pior que poderia acontecer ao País hoje seria os consumidores se deixarem influenciar pelo cenário externo e, por precaução, adiarem a decisão de consumir. "Com a queda no consumo, o comércio deixaria de fazer encomendas à indústria, e esta, por sua vez, seria forçada a reduzir a produção e demitir pessoal. Com o desemprego, a renda cai e também o consumo", advertiu Lula. Ele também se mostrou preocupado com a manutenção dos gastos públicos. Numa espécie de puxão de orelhas nos ministros, ressaltou que "não pode haver investimento não-realizado" e recomendou que se gaste, de forma consciente, "tudo o que há de verba para o PAC". Estima-se a verba orçamentária nãoempenhada pelos Ministérios em cerca de R$ 20 bilhões. Lula até fez uma confissão de fé: "Voltei da reunião do G-20 convencido de que o Brasil é o país que está em melhores condições para enfrentar a crise."

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, apresentaram números que dão lastro ao otimismo de Lula. Mantega deu ênfase ao fortalecimento das reservas cambiais, que continuam acima de US$ 200 bilhões, apesar das intervenções do BC no mercado de câmbio. Destacou a política fiscal, que gerou aumento no superávit primário, e a diversificação dos parceiros comerciais, que deixa o Brasil menos vulnerável à recessão nos EUA e na Europa. "Faremos de tudo para atingir a meta de crescer 4% em 2009", disse Mantega.

Novas medidas de emergência estão saindo do forno. O governo estuda o corte pela metade do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que incide sobre empréstimos para pessoas físicas e jurídicas. A Fazenda e o BC acompanham os problemas com sintonia fina. E a estratégia está surtindo efeito. Depois de brusca queda em outubro, o crédito para exportações volta aos níveis normais, com uma média diária de US$ 254,8 milhões entre 13 e 20 de novembro. O déficit em conta corrente também deverá ser apenas de US$ 500 milhões em novembro, contra US$ 1,507 bilhão em outubro e US$ 2,769 bilhões em setembro. Um dado ainda mais surpreendente: o investimento estrangeiro direto em outubro, de US$ 3,913 bilhões, bateu o recorde para o mês desde o início da série histórica. No acumulado do ano, o País já recebeu US$ 34,747 bilhões, outro recorde. Não foi exagero, portanto, o comentário de um ministro da área social durante a reunião na Granja do Torto: "Se uma nave de outro mundo chegasse à Terra nesses dias certamente escolheria o Brasil como porto seguro".