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O palestino Mosab Hassan Yousef tinha 18 anos quando virou informante do serviço secreto de Israel, o Shin Bet, após ser preso por porte de armas. Sua intenção era se fingir de colaborador para se vingar dos “inimigos”. Hoje, aos 32, ele dá graças a Deus por ter mudado de idéia — e se tornado um espião do país que odiara. Convertido ao cristianismo, por uma década repassou informações que culminaram na prisão ou morte de líderes palestinos e evitaram o assassinato de israelenses, entre eles o atual presidente de Israel, Shimon Peres. Isso só foi possível porque Yousef é filho de um dos sete fundadores do grupo extremista islâmico Hamas, o xeque Hassan Yousef, que atua na Cisjordânia e na Faixa de Gaza e é conhecido pelos atentados suicidas. Nesta entrevista à ISTOÉ, por email, ele fala sobre sua traição —  revelada no livro “Filho do Hamas” (Sextante), que chega ao Brasil após causar polêmica no mundo todo —, bate pesado no Islamismo e diz que revelou sua identidade para mostrar a seus conterrâneos que a liberdade é possível. 
 Yousef vive na Califórnia, Estados Unidos, mas espera um dia voltar ao Oriente Médio onde, provavelmente, seria assassinado. Foi ameaçado de morte pelo Hamas e renegado pelo pai, que está na cadeia. Mas ele acha que está cumprindo sua missão de alertar os compatriotas: o Islamismo é “a maior mentira da História.”  “Eu já quis matar judeus, mas me orgulho de dizer que hoje meus melhores amigos são judeus”, contou. Combater o que chama de “ideologia do ódio” seria fundamental para o sucesso de qualquer projeto de paz na região: “O Deus do Islã representa ódio e tortura. Ele ordena a morte de todos os que não acreditam nele”. Para Yousef, nem a criação de um Estado palestino nos territórios ocupados colocaria fim aos conflitos. 

ISTOÉ — Por que decidiu revelar sua identidade de informante?
Mosab Hassan Yousef —
Primeiramente, para mostrar a verdade. Sou um insider dos dois lados: dos palestinos que tomam as decisões e de israelenses influentes do Shin Bet. Quero compartilhar com o mundo o que ele não lê no noticiário. Em segundo lugar, porque palestinos e israelenses são prisioneiros de sua própria vergonha, culpa e medo. Ao dizer a verdade, eu enfrentei esses inimigos, mostrei ao meu povo e também aos israelenses que a vergonha, a culpa e o medo não podem nos impedir de dizer a verdade e, assim, conquistar a liberdade.

ISTOÉ — O sr. diz em seu livro que poucos ocidentais entendem a complexidade dos conflitos no Oriente Médio. Qual é a realidade, então?
Yousef —
O Islã é a maior mentira da História. É uma mentira perfeita, envolvida em camadas de verdade, alguns fatos e uma moral. Os ocidentais não entendem que o conflito no Oriente Médio é ideológico. É um conflito entre a ideologia do ódio e a ideologia do amor, entre dois deuses. Cada pessoa precisa primeiramente resolver esse conflito dentro de seu próprio coração para, então, resolvê-lo na prática. A comunidade internacional pode tentar forçar várias soluções para os dois lados, mas não tenho certeza de que ela possa levar uma paz duradoura à região.

ISTOÉ — Por quê?
Yousef —
O Islã significa submissão. Eu considero o Islamismo a religião mais perigosa do mundo. O deus do Islã representa ódio e tortura. Ele ordena a morte de todos os que não acreditam nele. As maiores vítimas das leis islâmicas são os próprios muçulmanos. Eles estão buscando justiça e felicidade para a humanidade através de ensinamentos maus e errados. A religião, em geral, não trará felicidade às pessoas. Só a graça de Deus pode fazer isso.

ISTOÉ — Mas também há críticas às religiões cristãs…
Yousef —
O maior exemplo é Jesus Cristo. Meu foco é nele, não no cristianismo em si nem nas diferentes interpretações da “Bíblia”. Jesus nos ensinou a amar até os inimigos.

ISTOÉ — Qual é o papel de Israel no conflito? Recentemente, por exemplo, o país atacou um navio de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza.
Yousef —
Sou contra qualquer tipo de agressão, mas eu compreendo a necessidade de certas medidas. Como é de costume, os israelenses culparam os palestinos, e os palestinos culparam os israelenses. Não apoio a morte de nenhum ser humano, mas acredito que Israel tem o direito de não permitir que o Hamas e o Irã tenham um porto no mar Mediterrâneo, para poder ameaçar toda a região. As crianças palestinas estão, sim, pagando o preço desse cerco à Faixa de Gaza, mas eu culpo a liderança do Hamas ali, que se preocupa mais com a destruição de Israel do que com seu próprio povo. O problema humanitário é grave e precisa ser resolvido de forma inteligente, mas ninguém quer arriscar dar o controle do Mediterrâneo ao Irã.

ISTOÉ — Que países mais patrocinam o terrorismo?
Yousef —
Todo o reino de Alá ou, em outras palavras, o reino do mal, da ignorância, da vergonha, da culpa e do medo. Seu reino tem diferentes faces. O problema não é o regime político especificamente. O problema e sua solução têm a ver com o que inspira esses regimes.

ISTOÉ — O que acha do programa nuclear do Irã?
Yousef —
Qualquer país que adote a ideologia islâmica e Alá como deus não pode ter acesso à energia nuclear, porque, do contrário, a humanidade pagará caro por tal erro.

ISTOÉ — O mundo tem razões para temer os muçulmanos?
Yousef —
Os Estados Unidos e todos os países podem ter uma ou algumas razões para temer os muçulmanos, mas eles têm todas as razões para temer o Islã. O Islã é o problema, não os muçulmanos. Os mulçumanos são um povo bom. Tem mais moral do que o deus deles.

ISTOÉ — Israel um dia conseguirá um acordo de paz com o Hamas e outros grupos extremistas?
Yousef —
A pergunta mais importante é: Será que o deus deles permitirá um acordo de paz? Precisamos conhecer os limites de cada uma das partes antes de criar expectativas. Se o limite é uma barreira ideológica, então precisamos saber o que é ensinado para as novas gerações nas escolas islâmicas, usando o dinheiro da Organização das Nações Unidas (ONU). Ensinam ódio ou amor? Estão desperdiçando o dinheiro em armas ou comida? Se a ONU, os Estados Unidos e a União Européia lideram o projeto de um acordo de paz, por que não forçam a inclusão, no projeto, do ensino do exemplo de Jesus Cristo, de amar os inimigos? Claro que isso é politicamente incorreto. Mas, sem a mensagem de amar nossos inimigos, não terão uma solução adequada.

ISTOÉ — O sr. acredita numa resolução dos conflitos no Oriente Médio?
Yousef —
Sim. Eu já quis matar os judeus um dia, mas, hoje, me orgulho de dizer que meus melhores amigos são judeus. O que impede a solução é a rejeição das pessoas ao exemplo de Deus, de nos amarmos uns aos outros, de perdoar e seguir em frente.

ISTOÉ — Sua vida mudou muito após o lançamento do livro?
Yousef —
Ficou mais difícil especialmente porque fui renegado pelo meu amado pai. Mas, por outro lado, ganhei minha liberdade. Estou curtindo a minha vida.

ISTOÉ — Considera-se um herói, por ter evitado mortes de israelenses?
Yousef —
Não sou um herói, mas acredito que é preciso muita coragem para fazer a coisa certa sob tais circunstâncias. Salvar vidas foi um esforço conjunto de muitos soldados e agentes, eu não tomo o crédito só para mim. Há muitos heróis nessa história. Mas o verdadeiro herói é meu Deus e salvador, que me motivou e inspirou nessa jornada difícil.

ISTOÉ — O sr. sofreu algum tipo de retaliação por expor o serviço de inteligência de Israel?
Yousef —
O Shin Bet fez o impossível: manter minha identidade em segredo, para a minha segurança e para a segurança da agência. Eu fiz o possível para não revelar seus métodos e procedimentos. Eu não acho que eles estejam felizes por eu ter revelado minha identidade, mas eu espero que um dia entendam o que fiz.

ISTOÉ — Pretende retornar ao lugar onde nasceu?
Yousef — Sim, acredito que um dia vou voltar.