Ao contrário do que possa sugerir o título, não se bebe uma gota de malte escocês em Whisky (Whisky, Uruguai/Argentina, 2003), de Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll, em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo na sexta-feira 26. É costume entre os uruguaios dizer a palavra quando se quer aparecer sorrindo numa fotografia. E sorrir não parece ser o forte dos personagens deste pequeno e curioso drama. A começar pela força das circunstâncias, já que no início da trama o viúvo Jacob (Andres Pazos) acaba de perder a mãe judia e se prepara para receber o irmão Hermann (Jorge Bolani), radicado no Brasil e por longo tempo longe da família.

Dono de uma pequena fábrica de meias e chefe de apenas três funcionárias,
Jacob vive sozinho num apartamento desarrumado. Para aparentar ao irmão uma vida boa, pede à funcionária Marta (Mirella Pascual) que finja ser sua mulher. O teatro conjugal transcorre às mil maravilhas, e o trio até viaja junto para um balneário fora de temporada, o que não se mostra muito animador. Apesar do cotidiano vazio de seus personagens, o filme revela-se envolvente ao mostrar como, de uma situação simulada, surgem sentimentos verdadeiros que fogem do controle. Vindo de um país com uma cinematografia tão esparsa, trata-se de uma grata surpresa.