Na mesma Rio de Janeiro onde havia nascido em 1887, morria há 45 anos, completados na quarta-feira 17, o compositor Heitor Villa-Lobos. Autor de Trenzinho do caipira ? como é conhecida a Toccata incluída na Bachiana brasileira Nº 2 ? e de temas musicais utilizados em filmes que vão de Limite, dirigido por Mário Peixoto nos anos 1930, aos clássicos de Glauber Rocha, como Terra em transe, Villa-Lobos é considerado um dos músicos mais originais do século XX. Sua biografia, transposta para as telas no filme Villa-Lobos ? uma vida de paixão, de Zelito Viana, pertencente à coleção ISTOÉ Festival do Cinema Brasileiro, não deixa margem a dúvidas. Era um predestinado. Quando assumiu aos 13 anos o violão nas rodas de chorões do Rio de Janeiro, já sabia tocar clarineta e violoncelo, gostava da música de Johann Sebastian Bach e tinha ouvido moda caipira in loco, depois de morar no interior do Rio e de Minas Gerais. Villa-Lobos é o que é porque soube ouvir o Brasil. E muito mais. Em 1923, durante sua primeira viagem a Paris, experimentou o que chamava de ?a maior emoção musical de sua vida?: a audição de Sagração da primavera, de Igor Stravinsky. Em sua tese de doutorado, o maestro Gil Jardim, admirador entusiasmado do músico, defende a idéia de que o Choro Nº 7 é uma espécie de releitura de memória da obra do russo. Na sua volta, Villa-Lobos foi saudado por Manoel Bandeira: ?Quem chega de Paris espera-se que chegue cheio de Paris. Entretanto, Villa-Lobos chegou cheio de Villa-Lobos.? Para todos os efeitos, o artista é ?ininfluenciável?. Não copia, se apropria. Compositor foi colaborador do presidente Vargas Desde a mudança para Paris, em 1927, ele conquistou a Europa e o mundo. Durante três anos realizou concertos e excursões, promoveu concorridas feijoadas, e só voltou ao Brasil ao sentir que seu sonho de implantar educação musical nas escolas, acalentado desde 1905, se materializaria com o apoio do presidente Getúlio Vargas. Mário de Andrade, que havia convidado Villa-Lobos para a Semana de 22, classificou o gesto de ?capachismo servil?. Pelo sim, pelo não, o maestro achou a Semana retrógrada em termos musicais, já que algumas das composições que apresentou, recebidas como ?escandalosas?, haviam sido criadas uma década antes. Prolixo, Villa-Lobos deixou mais de mil obras, entre sinfonias, suítes, concertos, óperas, corais, bailados, serenatas e choros, muitas das quais nem sequer revisou, alegando ?falta de tempo?. As partituras originais, reunidas no Museu Villa-Lobos, criado por Mindinha, segunda mulher do compositor, estão sendo examinadas por conhecedores como o maestro Jardim, que pretende recriar o balé encomendado a Villa-Lobos pelo célebre Serge Diaghilev, coreógrafo do balé russo, que morreu antes do início da produção. A idéia é apresentá-lo no evento O Ano do Brasil na França, que será realizado em 2005. O Brasil ainda não soube ouvir Villa-Lobos. Obra desconhecida: mais lembrado pelas Bachianas, Villa-Lobos deixou cerca de mil composições, entre sinfonias, suítes, concertos, óperas, corais, bailados, serenatas e choros