Ensina-se no colégio que os franceses “invadiram” o Brasil Colônia, mas poucos livros deram ênfase ao caráter predatório português. O romance Villegagnon ou a utopia tropical, do jornalista francês Serge Elmalan (Record, 350 págs., R$ 46,90), misto de ficção e pesquisa histórica, revela uma extraordinária experiência civilizatória – à revelia de Portugal –, que incluía o respeito aos indígenas e a proposta de uma sociedade mais justa do que a européia, consumida por guerras. Por trás de Henriville, a capital da França Antártica (1555-1558), localizada onde hoje é o Rio de Janeiro, estava Nicolas Durand Villegagnon (1510-1571), corajoso humanista, leitor da Utopia, de Thomas More e discípulo de João Calvino, precursor do protestantismo. Descendente de família nobre, ao chegar ao Brasil Villegagnon adotou uma política colaboracionista com os nativos, recheada dos ideais de liberdade e justiça. A experiência primitiva fica ainda mais aguda quando integrada pelo autor ao contexto renascentista europeu. A utópica aventura terminou com a retomada do Rio de Janeiro pelos portugueses. Serge Elmalan conclui o livro lembrando que, embora a França tenha renunciado à experiência carioca, o pensamento francês passou a se difundir no País, influenciando movimentos como a libertação dos escravos e o positivismo, de Auguste Comte.