Havana é uma personagem tão importante em Os palácios distantes, do cubano Abílio Estévez (Globo, 274 págs., R$ 39), que o ideal seria que o livro trouxesse um apêndice com esclarecimentos sobre a realidade da ilha. Quando Salma, uma das protagonistas, diz “nem mesmo com dinheiro podemos ocupar quartos em hotéis de mais de meia estrela”, o leitor deve saber que não há bálsamo que salve essa frase da realidade cruel. Em Cuba, há praias, restaurantes e hotéis nos quais o cubano não pode entrar. Estévez fala de grandes problemas da ilha de Fidel Castro, como prostituição, autovigilância e, a lástima maior, a desesperança, as abdicações ou a obsessão pela fuga.

As cenas de sexo convertem o prazer numa urgência. A política é arremessada com força. “O homem que busca o poder e acredita que foi-chamado-para-uma-missão-superior seria apenas um pobre-diabo se não ferrasse tanto com os outros!”, diz Victorio, cujo nome é uma referência à tomada do quartel de Moncada, em 1953. Jovem taciturno e absorto, ele consegue um lenitivo para suas inquietações ao encontrar a prostituta Salma e o octogenário palhaço Don Fuco. Abílio Estévez estreou na literatura com o romance Teu é o reino, aclamado pela crítica internacional. Esta belíssima obra confirma seu nome como uma das melhores promessas contemporâneas.