Executivos brasileiros que alcançaram sucesso nos Estados Unidos têm hoje uma maneira especial de ressaltar os laços afetivos com o seu país: com um jantar de gala todo mês de setembro, em Nova York, arrecadam recursos para apoiar projetos sociais no Brasil. O último levantou US$ 250 mil. No ano passado, foram US$ 220 mil. Esse sentimento verde-amarelo é evidenciado também em palestras e encontros organizados com empresários e líderes sociais brasileiros e americanos influentes que admiram a terra do samba e do futebol.

Quem coordena a captação de recursos entre executivos brasileiros nos EUA é uma organização não-governamental chamada Brazil Foundation, com uma sede em Nova York e outra no Rio de Janeiro. Foi criada há três anos pela jornalista Leona Forman, brasileira naturalizada, nascida na China e filha de judeus russos. Ela veio para o Brasil em 1956, casou-se com um antropólogo americano em 1967 e, daí, foi morar em Nova York. Passou a trabalhar na Organização das Nações Unidas (ONU), na qual ficou 20 anos. Durante todo esse período, continuou ligada afetivamente ao Brasil.

Quando completou 60 anos e se aposentou, Leona teve a idéia de organizar uma comunidade filantrópica brasileira nos Estados Unidos. “Eu queria retribuir as oportunidades que tive no Brasil. Minha família chegou ao País sem nada.

Tivemos educação, uma profissão e vida digna”, conta Leona. “Fui então a

uma festa onde estavam 40 brasileiros jovens, respeitados e influentes. Fui perguntando a um por um se, caso tivessem a oportunidade de fazer doações que beneficiassem projetos sociais no Brasil, com resultados visíveis e palpáveis, estariam dispostos a colaborar. Todos disseram que sim e alguns já se envolveram imediatamente no projeto.”

A partir daí, ela teve a ajuda do brasileiro Marcelo Hallake, que trabalha num grande escritório de advocacia americano, para constituir uma entidade sem fins lucrativos. Também ajudou muito a lei de imposto de renda americana, que garante incentivos fiscais a quem faz doações. Hoje, a Brazil Foundation desenvolve projetos como o Donnor Advised, no qual doadores escolhem uma entidade brasileira que desejam ajudar e a organização faz a verificação e a avaliação.

Nos últimos três anos, a entidade já transferiu US$ 2,32 milhões para ONGs brasileiras. Cada projeto recebe, no máximo, US$ 10 mil por um ano. São valorizadas iniciativas que apresentam soluções inovadoras para problemas básicos enfrentados por comunidades carentes. Em 2005, deverão ser selecionados entre 25 e 30 projetos. Este ano foram 25, escolhidos de um total de 1.078. “É feito um rigoroso processo de seleção até chegar a 40 finalistas”, explica Suzane Worcman, vice-presidente e diretora executiva da Brazil Foundation. Em seguida, esses finalistas são visitados e parte-se para um debate interno, com a ajuda de analistas de projetos. “Tem que ser avaliado o impacto na comunidade, a liderança e a capacidade de execução. Muitas vezes, o projeto é só um sonho”, afirma Suzane.

Dessa forma, os doadores se sentem seguros quanto ao uso dos recursos. “Os americanos ficavam ressabiados de fazer doações para o Brasil. Mas a gente sabe para onde vai o dinheiro e tem certeza que está sendo bem aproveitado”, tranquiliza-se a advogada brasileira Vanessa Pereira-Tobin, 31 anos e há sete em Nova York, que também trabalha num grande escritório de advocacia e é uma das maiores entusiastas da entidade. “Sempre quis fazer alguma coisa pelo Brasil e naquilo em que eu mais acredito, que é a educação de crianças”, comenta Vanessa, que ajuda a organizar festas entre amigos e clientes para arrecadar recursos.

O executivo do JP Morgan Fábio Whitacker Vidigal, 42 anos, responsável pela aplicação de fundos de investidores americanos, é outro colaborador. Tem incentivado colegas a fazer doações, participado de reuniões e apresentado idéias e projetos. “A Leona montou uma estrutura com nomes no conselho como a Ruth Cardoso, o Gilberto Gil e o Edmar Bacha. Isso dá um grau de seriedade e mostra compromisso com o País”, avalia. Ele tenta, no momento, incluir a organização num programa do JP Morgan, a partir do qual se um funcionário faz doação a uma entidade de até US$ 5 mil, o banco também colabora com a mesma quantia. No momento, a Brazil Foundation apóia projetos como o Gente é pra Brilhar, do Núcleo de Atenção Especial à Criança (RJ), que mantém projetos de arte-educação em parceria com escolas públicas, e o Plantando Esperança, do Centro Diocesano de Apoio ao Pequeno Produtor, de Pesqueira (RN), que constrói cisternas na região do semiárido. Quem quiser concorrer à seleção pode se inscrever até o dia 15 de dezembro, pelo site www.brazilfoundation.org.