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Acostumada a receber elogios rasgados, a Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, inicia nesta quarta-feira (4) sua 8.ª edição em meio a questionamentos: teria já esgotado sua fonte de bons autores a ponto de repetir nomes? Estaria privilegiando ensaístas em vez de ficcionistas? O homenageado merece tanto espaço?

Considerações que provocaram debates (alguns infrutíferos) nos últimos dias, mas não arranharam o brilho do mais importante evento literário do País, que, como de hábito, teve boa parte de seus ingressos para as 19 mesas esgotada rapidamente.

"Uma das principais marcas desta edição é o espaço maior reservado à homenagem. São três mesas, uma exposição, além da conferência de abertura e da programação da Casa de Cultura", comenta Flávio Moura, diretor de programação.

Freyre

O homenageado é o escritor e sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987), um dos maiores pensadores brasileiros. Sua obra será discutida por vários estudiosos a começar pela cerimônia de abertura, na noite desta quarta, a cargo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Sua presença, aliás, chegou a render boatos que o apontavam como o principal motivo pela saída de um dos patrocinadores, a Petrobras, em sinal de desagravo. Preocupado, Fernando Henrique disse que aceitaria ser ‘desconvidado’ para evitar mais problemas, mas a organização da festa garantiu que a saída de um não tinha relação com a chegada do outro – a empresa estava apenas redirecionando suas investidas de marketing.

Flávio Moura reconhece que a escolha de Freyre como homenageado iria mesmo provocar controvérsias, mas não se esquivou. "Gilberto Freyre é, a despeito de certa recepção negativa à sua obra, autor de interpretação fundamental do Brasil. Justamente por causa da polêmica que envolve seu nome, uma homenagem deveria contemplar as suas diversas facetas. Tentamos dar conta disso na composição das mesas."

Pensadores e poetas

A medida, embora lógica, causou nova celeuma por conta do que seria um excesso de pensadores em detrimento da quantidade de prosadores e poetas. "Nenhum festival no mundo chama apenas autores de ficção ou trabalha com a ideia de que não pode haver repetição", rebate Moura. "Eu não deixaria de convidar escritores interessantes porque eles já estiveram na Flip. Também acho que é preciso ter uma visão muito estreita do que seja ‘literário’ para considerar que há pouca literatura nesta edição. Faz parte do trabalho da curadoria escolher o que se harmoniza com o formato pensado para determinada edição, e acho que as críticas boas são aquelas que fazem uma avaliação dentro da proposta adotada."

Isabel Allende, Robert Crumb, Azar Nafisi, Ferreira Gullar, Salman Rushdie, William Kennedy e Ronaldo Correia de Brito são alguns dos grandes nomes desta 8.ª edição. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.