Grande é o sonho da casa própria e maior ainda ele passa a sê-lo quando a residência é comprada no chão – só há prospectos e mais prospectos e um gentil corretor explicando como o apartamento ficará bom e bonito quando estiver construído. O sonho cresce mais ainda quando em troca dessa planta que está no chão e desse projeto que está no ar se assina o primeiro cheque. Por aí explica-se o tamanho do baque se o sonho é implodido. Por aí explica-se o tamanho do baque dos 42 mil mutuários que ficaram a ver poeira quando em 1997 a Encol passou a ser sinônimo da maior fraude da construção civil no País: ao pedir concordata, ela deixou de honrar a construção e a entrega de 713 empreendimentos imobiliários em 22 Estados mais o Distrito Federal. Os mutuários sofreram um golpe de bate-estaca. O nome do dono da Encol, Pedro Paulo de Souza, figurara no início dos anos 90 entre os cinco homens mais ricos do Brasil com um patrimônio de R$ 2 bilhões. Assim que houve a derrocada da empresa, o seu prestígio e a sua reputação também levaram um baque. E o seu bolso também: descobriu-se que a falência fora fraudulenta e que ele desviara dos negócios para contas particulares algo em torno de R$ 2 bilhões. Ainda hoje, Souza figura em 18 processos criminais e somente no processo falimentar as penas dos crimes (se ele for condenado) somam 182 anos de prisão. Pedro Paulo Souza sumiu dos noticiários. Hoje, ele mora em Goiânia, num apartamento de dois dormitórios, e vive da aposentadoria do INSS e de consultorias a construtoras locais. Se quiser sair da cidade, tem de pedir licença à Justiça. Tem doenças cardíacas e sofre de depressão. Faz consultas a psiquiatras e participa de mesas espíritas. “Aos 69 anos tive de me enquadrar numa vida bem simples”, disse ele a ISTOÉ. “Perdi tudo. Não tenho mais tempo para recomeçar.”