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VILLA LEOPOLDA
Nas mãos de Lily, a mansão na França em estilo belle époque abrigou festas com o jet sett mundial

Inquestionavelmente elegante, com um apurado gosto para a arte, capaz de gastar fortunas em vestidos em poucas horas e difícil no trato pessoal, Lily Safra, a bilionária e filantropa viúva do banqueiro Edmond Safra, acaba de ser alvo de uma biografia. Quem espera ver, contudo, descerrada a cortina de mistério que cerca a jet setter brasileira, irá se decepcionar ao ler “Gilded Lily” (editora HarperCollins), sem previsão de lançamento no Brasil. Ao contrário, a jornalista canadense Isabel Vincent, do “The New York Post”, só faz aumentar o clima de filme noir que ronda a trajetória da enigmática Lily. O relato pouco explica como a bela loira encantou sucessivamente quatro milionários, nem decifra os mecanismos de sua intricada personalidade. Dedica, contudo, páginas e páginas questionando as misteriosas mortes de seus dois maridos mais ilustres, o fundador da rede Ponto Frio, Alfredo Monteverde, e o banqueiro Edmond Safra.

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SUICÍDIO?
O segundo marido de Lily, Alfredo Monteverde, teria se matado pouco depois de pedir o divórcio

Nascida em Canoas, cidade da Grande Porto Alegre (RS), temporã e única mulher em uma família de imigrantes ingleses, Lily foi a menina dos olhos do pai, Wolf Watkins, que não poupou esforços para dar a melhor educação à jovem loira e de olhos verdes, “criada para casar com homens ricos”. Quando Lily estava com 6 anos, o pai passou a prestar serviços para a Central do Brasil e o clã se mudou para o Rio de Janeiro. Mais velha, no meio da sociedade carioca, ela desabrochou. Mimada pelo pai, que lhe dava os melhores vestidos, a jovem brilhava pelo corredores do Colégio Anglo-Americano e nos bailes do Clube Israelita. Recém-formada, aos 16, teve duas perigosas paixões por rapazes judeus que conheceu nos bailes e jantares que frequentava com a família. Insatisfeito com os pretendentes, Watkins partiu com a família para uma temporada de férias no Uruguai. Lily voltou noiva de Mario Cohen, empresário judeu de descendência italiana oito anos mais velho, que se tornaria seu futuro marido. Na década seguinte, teve três filhos e viveu um quase exílio em Montevidéu.

A chance de escapar do casamento surgiu quando a loira conheceu Alfredo Monteverde, dono da rede Ponto Frio e, à época, um dos solteiros mais cobiçados do Rio de Janeiro. Durante os anos em que viveu junto, o casal foi feliz. Contudo, como nos outros relacionamentos de Monteverde, quando a paixão passou, ele pediu a separação. O fim foi trágico. Depois de um almoço com Lily e Cohen, ex-marido dela, para decidirem detalhes práticos da separação, o herdeiro do Ponto Frio foi encontrado morto em seu quarto, com dois tiros no peito, em 1969. O inquérito policial concluiu que foi suicídio. Contudo, a família Monteverde sempre questionou a versão. “Era o dia seguinte ao funeral e ela estava se comportando graciosamente, recebendo pessoas e organizando tudo com o sangue-frio de uma secretária de Estado”, disse Rosy, irmã de Monteverde, no livro. De concreto, o que se sabe é que Lily assumiu o controle do Ponto Frio com rapidez.

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INCÊNDIO
Edmond Safra, quarto marido de Llly, morreu em um incêndio na residência do casal,
em Mônaco (acima), tornando-a uma das mulheres mais ricas do mundo
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O livro traz poucos detalhes sobre a vida de Lily logo após a morte de Monteverde. Apenas registra o casamento de um ano com o empresário inglês Samuel Bendahan, em 1972, declarado nulo posteriormente. Não fica claro como ela conheceu Edmond Safra, banqueiro de origem libanesa naturalizado brasileiro. Ela tinha 42 anos quando se uniu a ele, em 1976, a contragosto dos irmãos dele, que a viam como uma judia de etnia inferior. O casamento durou 23 anos e alçou a gaúcha ao topo da alta sociedade internacional. Não sem tragédias. Depois de perder o filho mais velho, Carlos, em 1984, aos 36 anos, em um acidente de carro, Lily teve o último golpe com a morte de Safra em um incêndio em sua casa de Mônaco, em 1999. O banqueiro estava cercado de uma equipe de enfermeiros (Safra sofria de Parkinson) e seguranças, além da própria Lily, quando aconteceu o acidente. O julgamento declarou culpado um de seus enfermeiros, Ted Mahrer. Embora a autora não traga evidências de que Lily esteja por trás das mortes, deixa no ar a suspeita.

A jornalista canadense Isabel Vincent esbarrou na muralha de silêncio e fidelidade que cerca Lily para conseguir escrever sua biografia. Poucos se dispuseram a falar. Como Carlos, filho adotado de Monteverde que Lily assumiu: “Não sei como ela superou tantas coisas”, afirmou. Aos 72 anos, a bilionária avessa aos holofotes se divide entre Londres e Nova York, com seu baú de amores, tragédias, polêmicas. E muito, muito dinheiro.

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