São demolidoras as revelações contidas nos quase 92 mil documentos secretos do Pentágono, que agora vêm a público, sobre a atuação dos EUA no Afeganistão. Primeiro por desfraldar o tamanho da violência – em muitos casos, covarde – com que os americanos agiram nessa guerra. E, em seguida, pela desfaçatez com que as autoridades daquele país agiram para encobrir e até desvirtuar o resultado dessa operação. Há no calhamaço de papéis registros pavorosos sobre crianças sendo mortas no ônibus escolar a caminho da sala de aula, mães grávidas que foram sumariamente executadas e até de uma vila onde todos os moradores foram exterminados durante uma festa de casamento, pela simples desconfiança de um militar de que ali se abrigaria uma célula de extremistas do Taleban e da Al-Qaeda. As práticas de tortura e de assassinatos de civis desarmados em nome do combate ao terrorismo eram em parte conhecidas pelo mundo. Mas não na contundência e nos detalhes torpes e abomináveis que agora aparecem através desses relatos. Os ataques desumanos a inocentes e a tentativa de encobri-los encontram paralelo na Segunda Grande Guerra, quando as atrocidades dos campos de concentração só foram desvendadas após o cessar-fogo.

Os EUA que lideraram os aliados na ocasião são os mesmos que agora parecem praticar barbaridades em combate, ferindo o senso comum de civilidade. Já na guerra do Vietnã, que manchou indelevelmente a imagem dos EUA como nação justa, o governo americano ergueu um muro para evitar a circulação de informações que não lhe interessavam. As fotos e as evidências que surgiram depois viraram a opinião pública do próprio país contra os responsáveis e uma gigantesca mobilização barrou a continuidade do confronto. Diante do que vem sendo exposto, é de se perguntar se a opção pela alternativa bélica, com monumentais arsenais de ataque, de fato é eficaz para barrar a escalada dos grupos isolados de terrorismo que amedrontam o planeta nos últimos tempos. Todos querem se ver livres dessa ameaça. Mas não à custa de um cenário sombrio e deplorável de massacre em massa. Que os direitos humanos sejam preservados. Acima de tudo.