A dona-de-casa carioca Maria da Pomuceno, 54 anos, foi internada em agosto no Hospital Lourenço Jorge, no Rio de Janeiro, vítima de acidente vascular cerebral (avc), o popular derrame. A família sofria com a idéia de recebê-la de volta sentada sem falar e com o lado direito paralisado, conforme o diagnóstico dos médicos. Antes da alta, seu filho, Márcio Costa, foi procurado por uma equipe do Hospital Pró-Cardíaco e da Universidade Federal do Rio (UFRJ). Eles ofereciam uma nova chance. E a família aceitou. Foi assim que Maria se tornou a primeira pessoa no mundo a receber um implante de células-tronco para tratamento de avc feito na fase aguda do problema.

O resultado surpreendeu os médicos: 17 dias depois, Maria voltou a andar e hoje fala algumas palavras. “Ela está muito bem”, festeja Márcio. Maria foi a primeira entre dez pacientes participantes de um protocolo de pesquisa do Hospital Pró-Cardíaco que inclui estudos sobre células-tronco nas áreas cardíaca e de esclerose múltipla.

As células-tronco são como peças novas. Elas podem ser encontradas em maiores quantidades no cordão umbilical, na medula óssea e em embriões. Por não terem uma função designada, podem se transformar em células de qualquer parte do corpo, assumindo as funções das que foram lesadas por alguma enfermidade. No caso do avc, entre as células atingidas estão os neurônios, unidades fundamentais para o funcionamento do cérebro. Injetadas na região a ser tratada, as células-tronco têm o potencial de melhorar a irrigação sanguínea local e impedir que mais neurônios sejam destruídos. O procedimento foi realizado no Pró-Cardíaco pela equipe de Hans Dohmann. Os experimentos básicos, feitos com animais, tiveram a coordenação de Rosália Mendes-Otero, da UFRJ. “Nesta primeira fase, o objetivo é assegurar que o implante não causará dano. Só na segunda etapa, que deverá ser iniciada em 2005, será checada sua eficiência”, esclarece a neurofisiologista Maria Lúcia Mendonça, do Pró-Cardíaco.